Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A COMUNIDADE MODELO (2)

«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47


«à união fraterna»

Ao lermos e percebermos esta «união fraterna», tão bem descrita uns versículos mais à frente, «Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um», percebemos como estamos tão longe desta realidade de então.

E não é preciso levar “à letra” o que estes versículos nos narram, para reflectirmos sobre o tanto que nos falta, para vivermos a «união fraterna».

Não, com certeza que não é necessário «possuir tudo em comum», nem sequer «vender as terras e os bens, distribuindo o dinheiro por todos», mas é preciso percebermos que tudo o que temos nos vem de Deus e que, se só damos o que nos sobra, damos muito pouco.

Sim, é verdade que se possuímos muito ou pouco, tudo pode ser fruto do nosso trabalho, mas não podíamos nós como tantos outros não ter trabalho, não ter saúde para trabalhar, não ter sequer oportunidade de alcançar um trabalho?
E não é o nosso trabalho e a nossa capacidade para trabalharmos, uma graça de Deus, um colocarmo-nos ao serviço dos outros na construção do mundo que o próprio Deus colocou nas nossas mãos?
Ou queremos nós responder a Deus, quando Ele nos perguntar: «Onde está o teu irmão?»*, como respondeu Caim: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?»*

É que podemos não ter morto o nosso irmão, mas se o desprezámos, se não o ajudámos quando ele precisou de nós, se não fomos com ele «união fraterna», como queremos nós ser cristãos, como queremos nós ser Igreja?

Claro que aqueles cristãos naqueles tempos viviam assim em «união fraterna», com certeza não só entre eles, mas abrindo a porta a todos os que chegavam, ajudando e sendo irmãos daqueles que “andavam fora”, e por isso, sem dúvida, é que tinham «a simpatia de todo o povo.»

Temos nós hoje, cristãos em Igreja, «a simpatia de todo o povo»?

Claro que não, sabemos bem que não!

Então, e se procedêssemos como aquelas primeiras comunidades, e em vez de nos fecharmos em nós próprios, nos abríssemos verdadeiramente aos outros, não só naquilo que nos sobra, mas também naquilo que nos faz falta, seja em bens, seja em tempo, seja em amor, não teríamos nós também, nos nossos tempos em Igreja, «a simpatia de todo o povo»?

Ontem ouvia numa homilia de um Padre amigo esta reflexão:
Uma pessoa sai de casa, entra no seu carro, abre o seu portão com um comando, vai até ao centro comercial, estaciona na cave, sobe de elevador, ou escada rolante, entra no super mercado, faz as suas compras, paga nas caixas de pagamento automático, desce de elevador ou escada rolante, entra no seu carro, vai para casa, abre novamente o seu portão com o comando, estaciona o seu carro, entra em casa e … em tudo isto não falou com ninguém, se calhar não deu um bom dia a ninguém, muito provavelmente não mostrou um sorriso a quem quer fosse!
Que mundo é este em que vivemos, ou melhor, em que nos deixamos viver?

Transportemos este exemplo para o nosso trabalho, para a nossa vizinhança e até para a nossa família e podemos perceber quanto andamos nós neste mundo fechados em nós próprios, nas “nossas vidas”, nos “nossos mundos criados por nós, para nós”.

São os idosos que colocamos nos lares e nos “esquecemos” de visitar; são as crianças que colocamos em tudo quanto seja “tempos livres” e nos “esquecemos” de amar; são as nossas mulheres e os nossos maridos que cansados do trabalho nos “esquecemos” de beijar e acarinhar; são os nossos vizinhos, que preocupados com as “nossas vidas” nos “esquecemos” de cumprimentar; são os que precisam de nós e encontramos pelo caminho, e, aliviando as nossas consciências com os “deveres e obrigações” do Estado, nos “esquecemos” de ajudar; são os que se aproximam de nós para um abraço, uma palavra, e pela nossa “falta de tempo”, nos “esquecemos” de ouvir e abraçar; são os excluídos, os desprezados, os injustiçados pela sociedade, aos quais nós muito “pragmáticos”, encontramos razão para o serem, e assim nos “esquecemos” de incluir, de considerar, de confortar na justiça do amor.

E praticaremos nós a «união fraterna», até mesmo em Igreja, com os divorciados, com os homossexuais, e tantos outros, ou pelo contrário, achamos que não têm lugar à mesa da Igreja?
É que o pecador é bem diferente do pecado.
O pecado deve ser condenado, mas o pecador deve ser acolhido, ou não somos todos nós pecadores?
Ajudamo-los nós a entenderem a Doutrina verdadeira da Igreja, para que acolhidos caminhem caminho de conversão como todos nós devemos caminhar, ou pelo contrário, condenamo-los com base em falsas doutrinas, dimanadas por aqueles que não conhecem minimamente a Igreja, ou dadas como notícia na comunicação social?

E mesmo em Igreja, e até nas celebrações, vivemos nós e passamos aos outros essa imagem de «união fraterna»?
Ou pelo contrário, vivemos a Igreja e as celebrações como “espaço nosso”, como espaço da “nossa fé”, e que assim sendo é só “fezada”, é só rotina, é só até talvez superstição, porque é apenas coisa nossa onde os outros não têm lugar, o que é totalmente contrário ao Deus comunhão e serviço que Jesus Cristo nos revelou.

A lista é tão longa e verdadeira, que ao escrevê-la me sinto tão pequeno, tão ínfimo, tão pecador, tão envergonhado, por tantas vezes aparentar aquilo que verdadeiramente ainda não sou: um cristão católico!

Como queremos nós, ao não vivermos a «união fraterna», que «o Senhor aumente, todos os dias, o número dos que entram no caminho da salvação»?

Comecemos hoje, não deixemos para amanhã, o mudar das nossas atitudes, das nossas prioridades, do nosso viver cristão, para que possamos fazer caminho ao encontro da «união fraterna», que era característica das primeiras comunidades, alicerces desta Igreja que amamos e somos todos nós, os que acreditamos que o amor de Deus nos é dado, para o darmos ao nosso próximo, que são todos os que se cruzam nas nossas vidas, seja em que circunstância for, para que «o Senhor aumente, todos os dias, o número dos que entram no caminho da salvação», também hoje nos nossos dias.

* Gn 4, 9

Monte Real, 29 de Setembro de 2010
(continua)

Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2010/09/comunidade-modelo-2.html

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