“Um povo que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente anunciados”.
Bento XVI, 12/5/2010
A visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI a Portugal correu bem. Muito bem mesmo. Tudo ajudou, o tempo, a organização – tanto da Igreja como dos órgãos de soberania -, a guarda de honra, a segurança, os transportes, a pontualidade, tudo esteve a um nível excelente. Os discursos foram enxutos, bem ditos e com substância q.b. As pequenas asneiras jornalísticas, o ridículo da distribuição de preservativos, e a gaffe da “iminência” do primeiro ministro não chegaram para beliscar o brilho da visita – embora confirmassem a apetência de José Sócrates para a truculência do debate parlamentar em detrimento do saber estar na alta roda da política e da sociedade. A ausência de dois ex-PR civis, de qualquer cerimónia, só ilustrou a coerência laica, agnóstica e, ou, ateia dos mesmos e só favoreceu a fotografia.
Mas o que mais se deve realçar foi a civilidade da população – não se registou um único incidente – e a mobilização da Nação “Fidelíssima” que transformou em banhos de multidão todas as cerimónias efectuadas. Daqui se prova que ainda nos resta muita espiritualidade e podemos ser motivados para grandes causas – e para a “missão” – assim desponte liderança capaz para tais voos.
Uma liderança de matriz arreigadamente nacional portuguesa, que entenda que servir a Nação é mais importante do que acautelar a reforma; sirva a consciência e os interesses nacionais e não amos/entidades internacionalistas e apátridas; que tenha uma noção escatológica da vida; não adore o “Deus Mamon”; que entenda o exercício do poder como transitório, embora respeitado e digno e se apegue a ele apenas naquilo que o Dever impõe.
Por último o Papa. Mal amado pela maioria dos órgãos de comunicação que, à revelia daquilo que a Deontologia impõe, de relatarem os factos como eles são, em vez de os moldar a ideologias correntes ou a interesses de toda a ordem, têm tentado passar para a opinião pública a imagem de um Pontífice conservador, duro e arreigado a ideias ou práticas retrógradas, o Papa sai de Portugal “por cima” em todos os aspectos.
Bento XVI revelou-se assim, para quem não o conhecia, ou tinha dele uma ideia deturpada, uma pessoa afável, carinhosa, simpática, meticulosa, atenta; sabendo falar, gracejar, tocar, saudar, numa palavra, sabendo ser e estar em todas as circunstâncias.
A Igreja é intemporal e tem que veicular o reino de Deus, não as ideias dos homens.
A Igreja defende Princípios, que são imutáveis e se devem manter imutáveis perante os modismos dos tempos; não pode, nem deve, adaptar-se a conveniências de momento como defendem os adeptos do relativismo moral e outras correntes e ideologias que no fim, visam apenas a subversão da sociedade e a abolição de qualquer ordem superior do espírito.
Ora o Papa é o servidor número um da Igreja de Cristo e por isso deve ser o fiel garante de toda a Lei de Deus. Não se pode sair disto, sob pena de deixarmos de ter e de ser Igreja. E se no fim formos apenas 10, pois será 10 que seremos.
Esta mania infeliz – apesar de humana – de se andar constantemente a comparar Bento XVI com João Paulo II (ou com qualquer outro), tem que acabar. As personalidades são diferentes, o estilo é diferente, os desafios ou as prioridades são diferentes. Cada um é um ser individual, não tem que tentar copiar ninguém. Tem que se ser avaliado pelo que se faz, não por aquilo que outros fizeram.
E aos balanços dos pontificados – que são coisas diferentes – só podem ser feitos no fim de cada um, às vezes muitos anos depois.
Finalmente, julgo ser de realçar o “ar” como decorreu a visita. Desde o primeiro momento que houve um bom ar; um ar de alegria, de serenidade, de união, de hospitalidade, de seriedade, de comunhão. Um ar bom de verdade. Estas coisas sentem-se mais do que se explicam.
Sua Santidade ficou, certamente, satisfeito por ter visitado mais uma vez a terra de Santa Maria. E se para todos nós, pelo menos os crentes, a visita papal foi um bálsamo revigorante em tempos conturbados – os tempos são sempre conturbados… - para o Sumo Pontífice não deve ter sido menos gratificante saber que o canto mais ocidental da Europa ainda é um baluarte da Fé Cristã.
E nunca deverá olvidar que sendo a Igreja Universal, uma parte grande dela, é portuguesa.
João José Brandão Ferreira
14/5/2010
Agradecimento: ‘Infovitae’
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