Relato de três companheiros de São Francisco de Assis (c. 1244)
§§ 7-8 (a partir da trad. de Debonnet e Vorreux, Ed. Franciscaines, 1968, p.810)
Início da conversão de São Francisco
Certa noite, depois do seu regresso a Assis, os companheiros do jovem Francisco elegeram-no como chefe do grupo. Com tantas vezes tinha feito, mandou então preparar um sumptuoso banquete. Depois de saciados, saíram todos e percorreram a cidade, a cantar. Os companheiros, em grupo, iam à frente de Francisco; este, empunhando o bastão de chefe, fechava o cortejo, um pouco mais atrás, sem cantar, mergulhado nos seus pensamentos. E eis que, de súbito, o Senhor lhe aparece, enchendo-lhe o coração de uma doçura tal, que ele ficou sem conseguir falar, sem se mexer [...].
Quando os companheiros se voltaram para trás e o viram assim tão longe deles, voltaram atrás e aproximaram-se, receosos; encontraram-no mudado, como se fosse outro homem. Perguntaram-lhe: «Em que é que pensavas para te esqueceres assim de nos seguir? Estarias a pensar em arranjar mulher?» «Têm toda a razão! Decidi ter esposa, uma esposa mais nobre, mais rica e mais bela do que todas as que vocês já viram». Os companheiros puseram-se a troçar dele [...].
A partir daquele momento, ele fazia os possíveis para que Jesus Cristo lhe ocupasse a alma, e bem assim aquela pérola que tanto desejava comprar depois de tudo ter vendido (Mt 13, 46). Furtando-se frequentemente aos olhos dos que dele troçavam, ia muitas vezes – quase diariamente – rezar em segredo. De alguma maneira a isso era impelido pelo gozo antecipado daquela doçura extrema que tantas vezes o visitava e que com tanta força o atraía, estando ele na praça ou noutros locais públicos, para a oração.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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