Desde a chegada a Lisboa, a Missa no Terreiro do Paço, a oração na Capelinha das Aparições, a entrada na igreja da Santíssima Trindade, (onde ansiosamente o esperávamos), a Missa no Porto e a despedida, que vou olhando para a figura, para a presença de Bento XVI, tentando perceber o que ela me faz sentir, o que ela me provoca, ouvindo as suas palavras e querendo deixar que elas me apontem caminho, me façam ver aquilo que ainda não vi e preciso ver, na minha caminhada de conversão diária.
E “vejo”, “vejo” claramente a passagem bíblica da “tempestade acalmada”, Mc 4, 35-41
A barca, (a Igreja), no meio da tempestade, as ondas alterosas atirando-se contra ela, fustigando-a de todos os lados, e «Jesus, à popa, dorme sobre uma almofada.» Mc 4, 38
Os homens estão cheios de medo, não sabem o que fazer, olham uns para os outros, interrogando-se nos olhares sobre como vencer aquela tempestade.
E Jesus dorme!
Jesus dorme, porque há uma diferença nesta passagem, tal como a “vejo” agora!
É que no meio da barca, serenamente, está um homem de pé, de branco vestido, que aponta o caminho, que diz aos homens como fazer, para não perecerem na tempestade.
Com uma humildade desconcertante, mas com uma firmeza constante, ensina como navegar, como aproveitar os ventos alterosos, como dominá-los, como converte-los em ventos de feição, em ventos de crescimento, em ventos de fazer caminho.
Não se perturba, o seu olhar é tranquilo, o seu sorriso é constante, as suas palavras são firmes, mas repassadas de amor, e de todo ele emana uma paz que se vai transmitindo aos outros.
Vai explicando que na barca há alguns que navegaram e navegam contra corrente, que se afastaram, e afastam da rota de marear, mas que é preciso retornar ao caminho, à rota inicial, àquela que leva a bom porto.
E calmamente vai dizendo que todos cabem na barca, os que foram prejudicados por uma rota errada, e também aqueles que erraram a rota.
A uns é preciso acolhê-los e amá-los, tentando dar-lhes o que lhes tiraram.
Aos outros é preciso fazê-los sentir que erraram, mas que ainda há tempo de corrigir a rota, e encontrar a navegação certa.
É que a barca é grande e tem muitos compartimentos, onde todos e cada um são precisos, com missões diferentes, mas todos trabalhando para a mesma navegação que fará chegar a barca a porto seguro.
A tempestade continua, as ondas ainda se abatem sobre a barca, mas os homens na barca começam a ganhar mais confiança, porque aquele homem de pé, de branco vestido, lhes transmite essa mesma segurança, quando lhes diz:
Não temais que esta barca nunca se afunda!
Fitam-no, alguns surpreendidos, outros incrédulos ainda, mas olhando-o nos olhos perguntam-lhe:
Como podes tu ter tanta certeza que a barca nunca se afunda?
E ele sorrindo, num sorriso tranquilo e confiante, aponta-lhes a popa da barca e diz-lhes em voz firme:
Não vedes que Ele está sempre connosco, até ao fim da viagem?!
E prossegue firme nas palavras a dizer-lhes, a dizer-nos, (é que nós também vamos na barca):
Não nos ensinou Ele a rota para o bom porto? Não nos ensinou Ele a navegar mesmo nas ondas alterosas e nos ventos contrários? Não nos disse Ele e nos mostrou ao dar a vida por nós, que nada nem ninguém pode nada contra a Barca que Ele construiu e contra as vidas daqueles que Ele criou?
E continua ainda sem desfalecimento:
Então o que esperais? Mãos à obra! É preciso voltar à rota inicial, à rota que Ele mesmo nos ensinou. Não nos disse Ele, que se n’Ele permanecêssemos, Ele permaneceria connosco? Não nos disse Ele que mandaria um Vento Novo que nos conduziria na navegação perfeita? Então deixemos que esse Vento Novo nos conduza, e poderemos ter a certeza que todos os outros ventos e todas as ondas se acalmarão, e chegaremos ao porto que não tem fim.
Olhando-nos nos olhos, diz-nos então sem uma única expressão de dúvida:
E sabeis como sei eu isto? É que Ele está ali, sempre, a dormir na popa, sem nunca nos abandonar!
Reparai, disse ainda:
Na Sua entrega por todos nós reside esta certeza de que o porto seguro nos espera e está sempre ao nosso alcance, porque neste dormir tranquilo, Ele nos diz que confia mais em nós, do que nós confiamos n’Ele. É que sabeis, Ele conhece-nos, bem melhor do que nós nos conhecemos, e nunca permite nada que esteja acima das forças que Ele mesmo nos deu!
E termina dizendo:
Confiai nisto que Ele nos diz sem cessar, «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»Mt 28, 18-20
Marinha Grande, 15 de Maio de 2010
Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com/2010/05/bento-xvi-2.html
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