(…) Mas é importante recordar que estes escândalos se referem a crimes cometidos há várias décadas. Ora, os candidatos a Woodwards e Bernsteins [os dois jornalistas americanos que revelaram o escândalo Watergate] estão a desviar as atenções de uma crise que está a decorrer hoje, uma crise de que os media estão a desviar-nos as atenções (…), uma crise em que eles próprios desempenham um papel activo.
A Chanceler alemã, Angela Merkel percebeu muito bem o que se estava a passar, quando declarou que o abuso de menores era «um crime desprezível», mas se recusou a considerar que a Igreja Católica era a única instituição que devia ser objecto de críticas. «Não simplifiquemos demasiado as coisas», disse Angela Merkel. «Podemos considerar a necessidade de alterar estatutos, podemos dar indemnizações, mas a questão principal é que estamos perante um grande desafio para toda a sociedade.»
O grande furo jornalístico, a história de que ninguém fala, é que estamos a viver em negação de um sistemático, abrangente e deliberado processo de promoção de uma sexualidade descontrolada. É como se o serviço nacional de saúde tivesse substituído os cirurgiões por bruxas e praticantes de reiki; ou como se o ministério da defesa estivesse a deixar enferrujar os tanques. Alguns dos princípios fundamentais de uma sociedade civilizada, como a contenção sexual, a fidelidade matrimonial, a promoção da família, estão a ser activamente postos em causa. E a espantosa lista de políticos apanhados com as calças na mão (literalmente), o tsunami de pornografia e de actividade sexual entre adolescentes, são campainhas de alarme acerca das consequências resultantes da criação de uma cultura hiper-sexualizada.
Basta pensar no anúncio feito recentemente por uma empresa australiana, de que tinha vendido ao gigante farmacêutico Ely Lilly, por 335 milhões de dólares, os direitos de comercialização de um desodorizante de testosterona que tem como finalidade fazer aumentar o impulso sexual masculino.
Ou na recente notícia de que a Federação Internacional de Planeamento Familiar presenteou as escuteiras com um atractivo panfleto em que as incitava a «terem relações sexuais de muitas maneiras, e com parceiros diversos».
Ou no facto de o governo do Reino Unidos ter decidido alargar a educação sexual a crianças de cinco anos.
Se estas ideias tivessem sido propostas por um sacerdote, haveria imediatamente quem dissesse que se tratava de um predador. E de facto trata-se de ideias predadoras, que querem atacar a sociedade, com vista ao lucro. Que sociedade estamos nós a criar, quando incitamos as crianças a tratar o sexo como se fosse um passatempo e os homens a permanecerem num estado de permanente excitação? O sexo não é um brinquedo. Na ausência de padrões morais muito claros, o sexo é uma paixão natural que facilmente se transforma num vício antinatural. Alguém acredita que, dentro de trinta anos, haverá menos abusos sexuais, quando as crianças aprendem a masturbar-se nas aulas?
De todas as instituições sociais, dá a impressão de que a Igreja é a única que se apercebe de que se prepara uma crise, pela qual vamos pagar caro nos anos que se seguem. Como Bento XVI dizia aos bispos americanos:
As crianças merecem crescer com uma visão saudável da sexualidade e do lugar que ela ocupa nas relações humanas, e devem ser poupadas às manifestações degradantes e à crua manipulação da sexualidade que é hoje dominante. Têm o direito de ser educadas em valores morais autênticos, enraizados na dignidade da pessoa humana. [...] Que sentido tem falar de protecção de menores, quando a pornografia e a violência estão presentes em tantas casas de família, por via de media hoje totalmente disponíveis?
Michael Cook é o editor de www.mercatornet.com
Aceprensa
(Excertos, selecção da responsabilidade de JPR)
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