Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dependentes das saídas à noite

Passar a noite inteira, ou quase, "na noite" converteu-se na opção preferida de lazer para muitos jovens e adolescentes, como qualquer pessoa pode observar e um estudo recente corrobora em Espanha. Tais planos incluem normalmente excessos na bebida, e por vezes droga, sexo esporádico, lutas ou acidentes. Isto convida a que haja uma reflexão sobre como propor aos jovens outras formas mais seguras de se divertirem.

"Mais de 80% dos jovens madrilenos com idades entre os 15 e os 24 anos centram a sua forma de lazer nas saídas nocturnas e afirmam que lhes compensa sair toda a noite, apesar dos riscos (embriaguez, lutas, relações sexuais sem protecção, etc.) que pode implicar". Esta é uma das principais conclusões do estudo Ocio y riesgos de los jóvenes madrileños realizado pela Fundación de Ayuda contra la Drogadicción (FAD), Obra Social Caja Madrid e pelo Instituto de Adicciones da Câmara de Madrid, e publicado em 27 de Janeiro passado.

Estes dados são, em geral, extrapoláveis para o resto do país.

Os motivos que têm os adolescentes e jovens para preferirem preencher o seu tempo de lazer saindo à noite, relativamente a outras alternativas, são bem conhecidos.

O atractivo da noite

Em primeiro lugar, diz o estudo, "a noite apresenta-se-lhes como um espaço para a experimentação".

Atrai-os, porque dilui os limites e relaxa as responsabilidades. Nas saídas nocturnas não existe controlo pelos pais, não têm de prestar contas por aquilo que fazem, tudo é permitido. Os defeitos esfumam-se, afastam-se os deveres e pode-se ser aquilo que não se é durante o dia.

Os adolescentes gostam de sair à noite , porque julgam encontrar nisso a liberdade recém-descoberta e querem-na provar a todo o custo. A noite permite-lhes dançar, beber, desinibir-se, fazer novas experiências, serem outros durante algumas horas, relacionarem-se sem porem nada em jogo a não ser a epiderme... Os tímidos tornam-se audaciosos; os rejeitados sentem-se queridos; os solitários, acompanhados; os menos engraçados acham-se bem-parecidos; os inseguros ganham segurança; os antipáticos parecem simpáticos; os inocentes perdem a inocência.

O lazer nocturno decorre geralmente numa discoteca ou num disc-bar (só dois em cada dez jovens saem em grupo, munidos das suas bebidas alcoólicas). Esses locais estão planeados para confundir os sentidos e adormecer a razão e, assim, deixar os rapazes e raparigas ao sabor dos instintos. As luzes relampejantes anulam a vista; a música estridente, o ouvido; o álcool anula o gosto e a fala; o ambiente carregado, o olfacto, e a aglomeração de corpos, o tacto. O desajustamento dos sentidos obscurece a razão, a comunicação torna-se impossível, fala-se aos gritos (ou através do ecrã do telemóvel) e o contacto físico substitui as palavras: numa pista de dança há pouco a dizer.

Doutor Jekyll e Mister Hyde

Em segundo lugar, os jovens encaram a saída nocturna "como corte da rotina quotidiana".

Milhares de jovens são dependentes do fim-de-semana. Vivem a pensar na chegada da sexta-feira para lançar tudo pela borda fora e divertirem-se até que o corpo aguente. Dividem a semana em duas partes: os dias de trabalho, onde se têm de submeter à disciplina quotidiana, ir para as filas ou para trabalhar; e o fim-de-semana ou weekend, quando são livres e donos do seu tempo. Entre ambos os períodos, ergue-se um muro que se torna cada vez mais difícil poder transpor.

Todos esses jovens e adolescentes vivem uma autêntica esquizofrenia: são Doutor Jekyll durante a semana e Mister Hyde aos fins-de-semana. Um rapaz reconhecia-o: "Eu não sou eu próprio durante a semana; realmente sou-o ao fim-de-semana". E a verdade é que, em muitos casos, pouco tem a ver a imagem que dão nas aulas ou em casa com aquela que mostram na rua.
Se recordarmos o romance de Robert L. Stevenson, o doutor Henry Jekyll era um médico que descobriu uma substância que lhe permitia transformar-se à vontade em Mister Hyde. O problema surgiu quando não pôde controlar a metamorfose e a personalidade de Mr. Hyde se foi tornando mais forte do que a sua. Algo de parecido acontece a esses dependentes do fim-de-semana: sentem-se eles próprios quando são Mr. Hyde, nesses momentos de lazer onde reina a "boa disposição" e desaparecem as preocupações, os deveres, as obrigações e as normas.

Perigosa viagem de exploração

Terceiro, os adolescentes encaram o sair à noite "como instrumento essencial na procura de uma identidade pessoal e de grupo".

Sair com os amigos, ir à discoteca, a um concerto ou a uma festa, é sinónimo de liberdade. Nessa altura, o adolescente sente que transpõe uma fronteira que separa dois mundos: o familiar, dependente e infantil, do social, independente e juvenil. Se o primeiro mundo lhe oferece segurança, bem-estar e afectividade, o segundo dá-lhe a oportunidade de correr riscos, de se divertir e de experimentar novos sentimentos.

Quando saem, vão à aventura, ver o que há, ver o que se passa. O adolescente que sai à noite procura novas experiências que o ajudem a identificar-se consigo próprio. Quer saber quem é e que papel lhe cabe dentro do grupo, e, para isso, a noite proporciona-lhe todo um campo de experimentação.

O problema é que essa viagem de exploração torna-se perigosa e os adolescentes assumem sem qualquer reflexão demasiados riscos. Embriaguez, drogas, lutas, relações sexuais sem protecção... são encaradas "de noite" como actividades amplamente normalizadas.

Os dados que o estudo da FAD oferece a este respeito são eloquentes: "Quase sete em cada dez jovens dizem ter-se embriagado no último año (32% entre quatro e vinte vezes e 18,8% quase todos os fins-de-semana). Mais de 45% deles viajaram com alguém que tinha bebido ou tomado drogas (13,4% com uma frequência média e quase 2,5% de forma habitual). 31,4% viram-se envolvidos em lutas (7,4% com uma certa frequência e 1,5% habitualmente). Mais de 25% tiveram relações sexuais sem preservativo (7,2% até vinte vezes e 2,0% todos os fins-de-semana). 13% conduziram alcoolizados (3,9% com uma frequência intermédia e 1,7% com uma grande frequência). 11,3% provocaram lutas (1,5% com uma certa frequência e 1,9% habitualmente). E 6,8% dos jovens conduziram tendo consumido drogas (1,8% com uma frequência média e 2,2% quase todos os fins-de-semana)".

Cumprem as expectativas

Mas o estudo da FAD aponta timidamente para um quarto motivo pelo qual o lazer nocturno tem tanta transcendência para os jovens: a saída à noite é encarada "inclusivamente como oportunidade de exercício dos esteréotipos que a sociedade adulta espera do jovem". Ou seja, limitam-se a cumprir as expectativas que os adultos têm sobre eles.

Este é o motivo mais significativo dos quatro. Os três primeiros são compreensíveis: o jovem necessita de experimentar, romper com a rotina e procurar-se a si mesmo, são realidades inerentes à sua idade. No entanto, o facto de essas "necessidades" se desenvolverem quase exclusivamente com as saídas à noite, que essa seja a melhor forma que encontra para ser jovem porque é aquilo que a sociedade espera que faça, torna-se realmente preocupante.

De cada vez que um estudo sobre a juventude avança com percentagens sobre aquilo que os adultos sabem, estes últimos começam a bradar aos quatro ventos, mas nada fazem. Pelo contrário, continuam a apostar em que as coisas continuem da mesma forma, porque o que muitos adolescentes e jovens percebem, é que os adultos esperam deles que façam aquilo que fazem.

Entre o estoicismo e o hedonismo

A sociedade em que vivemos oscila entre o estoicismo e o hedonismo: o estoicismo dos dias de trabalho, quando as pessoas se submetem à disciplina dos horários, ao trabalho e, até, às dietas alimentares, e o hedonismo do fim-de-semana e das férias, quando disfrutam da vida, rompem os horários, as dietas e as normas e aproveitam para se divertirem. Se os adolescentes e jovens compreendem esse dualismo, é normal que apontem para ele.

Consequentemente, aos jovens é "muito difícil ou impossível enfrentar actividades alternativas", como adverte o estudo da FAD.

No fundo, os jovens e adolescentes estão cansados de fazer aquilo que fazem, pois fazem-no por não terem outra coisa para fazer, visto que a sociedade não lhes ofereceu outras alternativas. Acomodaram-se ao que há, agarraram-se à estúpida dança entre o estoicismo e o hedonismo que os adultos dançam.

Carlos Goñi Zubieta; Pilar Guembe Mañeru

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Pilar Guembe e Carlos Goñi são autores de No me ralles. Claves para hablar con hijos adolescentes e No se lo digas a mis padres.

Aceprensa

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