Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CONHECER BENTO XVI -O Papa da palavra, mais do que da imagem

A imprensa acompanhou de perto a Jornada Mundial da Juventude em Colónia, a primeira depois da eleição do novo Papa. Apresentamos uma selecção dessa cobertura jornalística.

"Colónia teve grandes multidões e muita coreografia mas, sobretudo, temas comprometedores", observa Gaspare Barbiellini Amidei no "Corriere della Sera" (20 de Agosto de 2005). "O Papa da palavra, mais do que da imagem, apresenta uma aposta difícil, cujo resultado não está garantido nos ritmos efémeros dos telemóveis e dos "spots", numa sociedade asceticamente devota da televisão e do "star system". É mais fácil comunicar pelo ecrã, do que alcançar os cérebros".

"Fazendo finca-pé nos conteúdos e elegendo como primeira prova o terreno, sentimentalmente mais seco, da Europa da Reforma e do ateísmo prático, Bento XVI mostrou qual o objectivo do seu Pontificado: dar respostas pensadas sobre o significado das perguntas. A metodologia fintou as interpretações que vulgarizavam a sua estratégia comunicativa. Ratzinger vai directamente à solução ‘filosófica'. Com uma intuição moderna, retoma o seu discurso precisamente nesse temido período que é a época do iluminismo, momento considerado pelo conservadorismo religioso como o ponto de máximo afastamento entre o homem europeu e o Deus da tradição".

Bento XVI, acrescenta o comentarista, "torna seu, e também de Deus, o princípio liberal do direito que precede o tema da autoridade. Inesperadamente, o Papa proclamou em Colónia um direito: o de Deus falar à sua jovem multidão, ‘esperança do mundo'. Gritou: "Deixai a Deus o direito de vos falar". Perante um mundo que corre o risco de ver negados os direitos do homem em nome de uma violenta interpretação de Deus, "a resposta de Ratzinger está na oração, recitada com os seus jovens nos umbrais de uma sinagoga e de uma mesquita. Aqui, palavra e imagem, ser e dizer, sentir e ver, podem converter-se numa mesma coisa, se cada um for sincero. Como escrevia a antiga sabedoria grega, o ser e o dizer são uma mesma coisa".

O "carisma" de Bento

O escritor Vittorio Messori comenta no "Corriere della Sera" (22 de Agosto) que os factos desmentiram "os que temiam - entre eles eu - que o novo Papa teria dado a impressão de um substituto um pouco coibido, um ‘vice' chamado a gerir um acontecimento que ele não tinha iniciado e que talvez nem sequer o quisesse".

No conceito de Matthias Drobinski ("Süddeutsche Zeitung", de 22 de Agosto), "ao Papa Bento sucedeu o mesmo que aos Reis Magos, de quem a Jornada Mundial da Juventude tomou o lema: actuou, precisamente, pelo facto de se ter posto a caminho para um encontro que não tinha sido planeado por ele - o tímido intelectual - e ter tido ele a valentia de se apresentar perante uma multidão ruidosa".

Que efeito causou? "Por detrás do entusiasmo oficial das delegações" - opina Drobinski - "ocultava-se uma certa decepção; um ou outro católico jovem dado ao entusiasmo já não estava tão eufórico quando o Papa se retirou. Apesar de tudo, aclamaram-no, primeiro os 400.000 participantes de toda a JMJ, depois os 800.000 da noite de sábado e, no final, o milhão de assistentes à Missa de encerramento. Em primeiro lugar, porque muitos participantes da JMJ viram com simpatia que Bento não tentara copiar o seu carismático e espontâneo predecessor João Paulo II, mas que se mantivera autêntico na sua timidez e nos seus gestos pouco ensaiados. Depois, porque é um costume muito alemão medir um Papa pelo que diz em público... e os alemães apenas eram um em cada quatro participantes. E, por último, porque um acontecimento com tanta gente jovem tem momentos em que também se celebra a si mesmo, descontraído e embriagado de espírito comunitário. Se bem que os grupos que cantavam, agitavam bandeiras e tocavam apitos tenham marcado as imagens de televisão, o encontro de Colónia não foi apenas um ‘evento': muitos jovens mantiveram-se sérios, procuraram o silêncio e dedicaram-se a rezar, apreender e debater".

Assim, diz Messori, o encontro de Colónia "demonstrou que, qualquer que seja o carisma do Papa, os jovens apercebem-se de que o que conta de verdade é Cristo e a Igreja, dos quais um homem de cada vez é Vigário e Chefe. Portanto, diversidade mas não descontinuidade, entre João Paulo II e Bento". O novo Papa "apresenta-se a cada um como um pai acolhedor e respeitoso mas, ao mesmo tempo, consciente de ser mestre e garante da ortodoxia da fé. Este é o homem que, à viva força, quis que o Catecismo se convertesse num best-seller: não simplesmente para se vender, mas para se estudar, e mesmo aprender-se de memória. Precisão, rigor, recusa de qualquer cedência ao sentimentalismo, ao desejo de cair bem à custa da verdade. É o sinal de um governo pacífico mas, no entanto, tenaz. Que pretende deixar espaço a todos e a tudo, menos ao erro".

Claro em relação aos muçulmanos

Magdi Allam, especialista em temas islâmicos do "Corriere della Sera", comenta no diário milanês (21 de Agosto) o encontro de Bento XVI com representantes muçulmanos e louva " um Papa que recusa o diálogo que se resuma no rito formal e algo hipócrita de um forte aperto de mãos perante as câmaras de televisão". Pelo contrário, o Papa colocou os muçulmanos na situação de "se confrontarem explicitamente com o sistema de valores que fundamenta a civilização humana. Sem concessões aos temas sociais e económicos (a marginalização, a miséria) que acompanham o fanatismo violento. Em Colónia, Bento XVI inaugurou uma nova época nas relações com os seguidores da terceira religião abraâmica, promovidos para o centro da principal emergência internacional pelo terrorismo e pelas preocupações suscitadas nas comunidades islâmicas radicadas no Ocidente".

Allam afirma que Bento XVI evitou o erro de usar, para a compreensão dos muçulmanos, parâmetros que são próprios do cristianismo e do Ocidente. "Compreende que não têm um Papa, nem há clero nem sacerdotes islâmicos. Reconhece que apenas uma ínfima minoria de muçulmanos se identifica com as mesquitas, mesmo sendo crentes, porque o fundamento do Islão é a relação directa entre o fiel e Deus. Apercebe-se de que, por um misto de ingenuidade, cobardia e ideologia, o Ocidente ofereceu grande parte das suas próprias mesquitas aos extremistas que legitimam, explícita ou camufladamente, o terrorismo e relativizam o valor da vida segundo a identidade das vítimas".

É evidente, conclui, que "a guerra mundial contra o terrorismo e a ideologia niilista que nega a sacralidade da vida de todos, só poderá ser ganha com a participação convicta do conjunto dos muçulmanos, os quais - há que recordá-lo - são, paradoxalmente, tanto os principais verdugos, como as principais vítimas deste horror globalizado".

Bento XVI face à crise da Alemanha

A partir do acolhimento dispensado ao Papa na Alemanha, Hermann Tertsch, colunista de "El País" (Madrid, 23 de Agosto), chama a atenção, numa perspectiva não religiosa, para a ajuda que Bento XVI pode representar para o seu país.

"O papado de Karol Wojtyla foi o pior que aconteceu aos que apostavam no cinismo e na resignação para perpetuar a ditadura comunista e defender os dogmas sem relevo do determinismo histórico. Tudo indica que o de Bento XVI - logicamente mais breve - pode mobilizar as consciências individuais com consequências imprevisíveis. Se, com a primeira viagem ao seu país natal, a Polónia, João Paulo II despoletou o movimento que haveria de devolver a liberdade e a dignidade às nações e aos indivíduos oprimidos por uma ideologia corrupta, criminosa e mentirosa, o novo Papa, muito mais intelectual que o seu antecessor, realizou a primeira visita ao seu país natal e levantou uma inaudita onda de entusiasmo com a o seu apelo à activação da valentia e da força do individuo. Se o primeiro chamou à insubmissão face à opressão, este chama à activação do sentido transcendente do individuo - também do não religioso - na liberdade e na confiança face à docilidade que o reducionismo não laico impõe , mesmo anti-religioso. Por isso põe ênfase, não apenas no diálogo inter-eclesial, mas no que seria de chamar comunhão trans-religiosa".

Tertsch pensa que a Alemanha era um campo de experiências especialmente difícil para este objectivo, pois "em nenhum país europeu esteve a Igreja Católica tão tentada a ganhar aceitação pela renúncia aos seus princípios e códigos. Nenhuma igreja, como a católica alemã, teve um movimento secular e intelectual tão activo e movimentado para impor reformas ao gosto do "consumidor" e uma modernização que acabasse na demolição das suas estruturas hierárquicas e da sua antiquada organização, que permitiram à Igreja Católica manter a sua unidade e não confundir modernidade com modas".

"Se todo o mundo sofre hoje da incerteza, na Alemanha, onde depois do desastre do nazismo e da guerra, a identidade e a confiança se fundamentaram exclusivamente na prosperidade material, a crise económica causou estragos anímicos. O Papa não vai libertar a Alemanha da sua crise. Mas muitos acreditam já que este Papa pode ajudar tanto a sua pátria como João Paulo II ajudou a sua".

Aceprensa

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