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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
No Dia Mundial da Paz, apelo do Papa a investir na educação, para uma responsabilidade ecológica baseada no respeito do homem
Na homilia da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, Dia Mundial da Paz, Bento XVI reflectiu sobre “Rosto de Deus e rostos dos homens”, um tema que – observou - “oferece também uma chave de leitura do problema da paz no mundo”.
Ponto de partida - a bênção contida na primeira leitura e no Salmo responsorial: “O Senhor faça resplandecer sobre ti o seu rosto” e “Deus nos bendiga e sobre nós faça resplandecer o seu rosto”. “O rosto – fez notar Bento XVI - é a expressão por excelência da pessoa, aquilo que a torna reconhecível e de onde transparecem sentimentos, pensamentos, intenções do coração”.
Deus é, por natureza, invisível, e contudo a Bíblia aplica-lhe esta imagem. Mostrar o rosto é expressão da Sua benevolência. Toda a Bíblia pode ser lida como um progressivo desvelar do rosto de Deus até à sua plena manifestação em Cristo Jesus. Como recorda na segunda leitura o apóstolo Paulo, “quando chegou a plenitude do tempo, Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher”.
O rosto de Deus assumiu um rosto humano, deixando-se ver e reconhecer no filho da Virgem Maria, que por isso veneramos com o elevadíssimo título de “Mãe de Deus”. Foi ela a primeira a ver o rosto de Deus feito homem no pequeno fruto do seu seio.
“A mãe tem uma relação muito especial, única e de algum modo exclusiva com o filho recém-nascido. O primeiro rosto que a criança vê é o rosto da mãe, um olhar que é decisivo para a sua relação com a vida, consigo mesmo, com os outros, com Deus. Decisivo também para que se possa tornar um filho da paz”.
Bento XVI evocou, neste contexto, um dos ícones marianos da tradição bizantina – a chamada “Virgem da ternura”, que representa o menino Jesus com o rosto apoiado, com a face encostada à face da mãe, a qual pousa sobre nós o seu olhar, como que a reflectir a ternura de Deus, que incarnou naquele Filho de homem que tem ao colo.
“Neste ícone mariano podemos contemplar algo do próprio Deus: um sinal do amor inefável que o levou a dar o seu filho unigénito. Mas este mesmo ícone mostra-nos também, em Maria, a Igreja, que reflecte sobre nós e sobre o mundo inteiro a luz de Cristo, a Igreja, mediante a qual chega a cada homem a boa notícia”.
E foi destas reflexões iniciais que o Papa passou ao tema do Dia mundial da paz:
“Meditar sobre o mistério do rosto de Deus e do homem é uma via privilegiada que conduz à paz. Esta começa, de facto, de um olhar respeitoso, que reconhece no rosto do outro uma pessoa, qualquer que seja a cor da sua pele, a sua nacionalidade, a sua língua, a sua religião”.
Mas só Deus pode garantir, por assim dizer, a “profundidade” do rosto do homem:
“Só se tivermos Deus no coração é que estamos em condições de captar no rosto do outro um irmão em humanidade, não um meio mas um fim, não um rival ou um inimigo, mas um outro eu, um aspecto do infinito mistério do ser humano”.
É que – explicou o Papa – “a nossa percepção do mundo e, em particular, dos nossos semelhantes, depende essencialmente da presença em nós do Espírito de Deus. É uma espécie de ressonância”. “Se somos habitados por Deus, somo também mais sensíveis à sua presença no que nos circunda: em todas as criaturas, e especialmente nos outros homens”.
“Para nos reconhecermos e respeitarmos como somos realmente, isto é, irmãos, temos necessidade de nos referirmos ao rosto de um Pai comum, que nos ama a todos, apesar dos nossos limites e dos nossos erros. Desde pequenos, é importante sermos educados ao respeito do outro, mesmo quando é diferente de nós.
Hoje em dia, é cada vez mais frequente a experiência de turmas escolares compostas por crianças de várias nacionalidades, mas mesmo quanto tal não acontece, os seus rostos são uma profecia da humanidade que estamos chamados a formar: uma família de famílias e de povos”.
“Os rostos das crianças são como que um reflexo da visão de Deus sobre o mundo. Para quê, então, extinguir os seus sorrisos? Para quê, envenenar os seus corações?” – interrogou-se Bento XVI, que evocou as “dolorosas imagens de tantas crianças com suas mães mergulhadas em situações de guerra e de violências: prófugos, refugiados, migrantes forçados. Rostos marcados pela fome e pelas doenças, rostos desfigurados pelo sofrimento e pelo desespero”.
“Os rosto dos pequenos inocentes são um apelo silencioso à nossa responsabilidade: perante a sua condição inerme, caem todas as falsas justificações da guerra e da violência. Devemos simplesmente converter-nos a projectos de paz, depor as armas de todo e qualquer tipo e empenhar-nos em construir juntos um mundo mais digno do homem”.
A concluir a sua homilia nesta Missa de 1 de Janeiro, na basílica de São Pedro, Bento XVI referiu o tema desta Jornada Mundial da paz” – “Se queres cultivar a paz, defende a criação”, situando também este tema na perspectiva do rosto de Deus e dos rostos humanos. O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um pleno sentido da vida – observou o Papa. Caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e aquilo que o rodeia, a não ter respeito pelo ambiente em que vive.
A perspectiva do “rosto” convida a pensar na “ecologia humana”. De facto, existe um elo muito estreito entre o respeito do homem e a salvaguarda da criação: “os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e em relação aos outros”. “Quando se respeita na sociedade a ecologia humana, disso beneficia também a ecologia ambiental”.
“Renovo portanto o meu apelo a investir na educação, propondo-se como objectivo, para além da necessária transmissão de noções técnico-científicas, uma responsabilidade ecológica mais ampla e aprofundada, baseada no respeito pelo homem e pelos seus direitos e deveres fundamentais. Só assim o empenho pelo ambiente se pode tornar verdadeiramente educação para a paz e construção da paz”.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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