No passado mês de Dezembro, publicou-se nas páginas 14 a 19 do 1º número do Viva Telheiras - a revista anual do bairro -, uma entrevista com o Sr. Prior, transmitida aqui na íntegra:
Criada em 2004, a Paróquia de Telheiras tem como limites a Av. das Nações Unidas e o Eixo N-S a norte, a Av. Pde. Cruz a nascente, a 2ª Circular a sul e a poente a Estª da Luz, Trª do Seminário, a rua Fernando Namora, Azª da Torre do Fato até à Av. Nações Unidas. Tem como prior o Pe. Rui Rosas da Silva, de 68 anos, natural da Maia, doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma) em 1993. Foi director de residências universitárias e professor do liceu em Coimbra e na Figueira da Foz, além de director e também professor do Colégio Planalto. Ordenou-se em Roma com 52 anos e pertence à Prelatura do Opus Dei. Foi nomeado pelo Senhor Cardeal Patriarca primeiro pároco de Telheiras, em 2004.
P. - Pe. Rui, desde a sua chegada até hoje, como foi a sua relação com a comunidade de fiéis?
Pe. Rui – Quando cheguei a Telheiras, já conhecia a igreja. Dadas as minhas funções no Planalto, trouxe aqui num ano a fazer a sua Primeira Comunhão um grupo de alunos. Confesso que não tive dificuldades no relacionamento com as pessoas. Isto não é uma virtude, mas uma constatação de facto. Julgo que me dei e dou bem com os paroquianos. A primeira incumbência que me coube foi a de melhorar a igreja, que já estava em obras, sob o ponto de vista de instalações. Foi necessário restaurá-la. E gostaria de prestar homenagem a todos os sacerdotes que aqui trabalharam antes de mim, pois todos fizeram o que podiam. Destaco, dum modo especial, os Padres Marianos e também o actual prior do Lumiar, que os antecedeu. Recordo ainda os Franciscanos da Luz e as Irmãs Doroteias do Campo Grande, que nos anos quarenta conseguiram dar de novo culto à Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu, transformada em oficina de serralharia após a implantação da República. Curiosamente, descobriram a Imagem de Nossa Senhora da Porta do Céu num galinheiro de Telheiras. Na altura, para a trazer para o seu templo, organizaram uma procissão, em que os homens da zona foram convidados a acompanhá-la de bicicleta, a fim de que nela participassem efectivamente.
Ainda a este respeito, gostaria de fazer referência ao empenho posto pelo Marquês de Pombal, na altura Escrivão da Irmandade de Nossa Senhora do Céu, a quem se deve a reconstrução da Igreja, após a sua destruição no Terramoto de 1755. Nos meus dois primeiros anos de paroquialidade, houve certa dificuldade em celebrar as missas dominicais, porque a igreja, como referi, esteve em obras. Por isso, tivemos de recorrer à capela do Planalto, à das Irmãs da Clínica de S. José e, por fim, ao auditório da Biblioteca Professor Orlando Ribeiro. Contudo, logo que foi possível dispor do actual salão da igreja, que a EPUL, dentro do acordo feito com o Patriarcado, habilitou, começámos a celebrar aí a Eucaristia diariamente, excepção feita aos domingos de manhã. Coube também à EPUL restaurar o telhado, as paredes exteriores e a retaguarda do edifício. Tendo sido criado na paróquia o Conselho Económico, órgão consultivo do pároco, abalançámo-nos a refazer e melhorar o interior da Igreja, dotando-a de novo retábulo, altar, ambão, pia baptismal, sacrário, bancos, nova instalação eléctrica e sonora, aquecimento através de pisos radiantes, etc. Estas obras importaram, números redondos, em 270.000 Euros, dos quais 100.000 por empréstimo bancário. Felizmente, a generosidade dos paroquianos foi excelente, pelo que já se conseguiram saldar todas estas despesas até ao fim de 2008. E dois anos antes, o Senhor Cardeal Patriarca pôde vir abençoar e reabrir ao culto a igreja renovada e restaurada, no mês de Maio.
P. – Porque ficou por pôr o sino e o relógio na torre da Igreja?
Pe. Rui – Porque tenho uma promessa interessante de oferta do sino e do relógio, que pode ser cumprida na nova igreja, que terá de ser construída (estou a pensar iniciar as diligências para esta obra nos finais do próximo ano). É realmente necessário edificar uma nova igreja, dotada com instalações de apoio habituais à paróquia, porque esta é manifestamente pequena, não só porque tem crescido o número de pessoas nas missas, como também porque as dependências para albergar os escuteiros, os serviços de atendimento, secretaria, etc., são muito exíguas e inadequadas.
P. – Qual o maior desafio ao nível espiritual e pastoral para os próximos anos?
Pe. Rui – Sublinharia dois, entre outros. Por um lado, as vocações sacerdotais. É preciso fomentá-las, sobretudo entre os jovens. E uma paróquia é um lugar privilegiado para as fazer nascer. Estamos a viver, por determinação de Bento XVI, o Ano Sacerdotal, e certamente o tema das vocações é nele muito recorrente.
O segundo diz respeito, numa época de crise económica e de desemprego, a ajudar caritativamente os mais necessitados. As igrejas são um foco de atracção deste tipo de pessoas, porque sabem que aí se procura pôr em prática os ensinamentos de Jesus Cristo.
P. – Como faz face a paróquia de Telheiras aos problemas sociais, como o desemprego, carestia de vida, rupturas familiares, quebra de valores e de identidades?
Pe. Rui – Desde, praticamente, que cheguei se tem procurado fomentar o apoio socio-caritativo a pessoas e famílias necessitadas. Por exemplo: no Natal e na Páscoa, duas grandes festas da Igreja, procuramos "aconchegar" cerca de setenta famílias, oferecendo-lhes o que designámos por "Cabaz do Natal" e "Folar da Páscoa", ou seja, uma boa dose de produtos alimentícios próprios dessas festas, além de roupas. Tudo isso nos é oferecido pelos paroquianos e algumas entidades. Ao longo do ano, a paróquia, através de dádivas monetárias que recebe dos seus fiéis, tem pago contas de luz, de água, receitas médicas, etc., a famílias necessitadas. Dinheiro, por princípio, não damos. Estamos, neste momento, através do voluntariado, a tentar melhorar sensivelmente os destinos das nossas dádivas, a fim de distinguir, com mais rigor e exactidão, o "trigo do joio", no mundo dos verdadeiramente carenciados.
Para dar formação cristã às pessoas, para além da Catequese tradicional, cujo número de participantes tem aumentado – no ano passado foram cerca de 120 crianças que se inscreveram – organizam-se cursos diversos: de noivos, de preparação para o Baptismo, de teologia para universitários, de teologia para todos, de preparação de adultos para o Crisma, de Catecúmenos, etc. Tudo isto ocupa constantemente o único salão da Igreja. Era nossa meta levar para a frente, neste Ano Sacerdotal, um curso sobre o sacerdócio, de que se encarregou o P. José Miguel Ferreira Martins. No entanto, quis a II Vigararia, a que pertence Telheiras, que esse curso se abrisse a todas as paróquias que ela alberga, pelo que se efectuará numa comunidade mais central geograficamente em relação a todas as outras paróquias da referida Vigararia. Telheiras situa-se num dos seus extremos e não tem instalações adequadas para o efeito.
P. – Num bairro novo e sempre a crescer, com mais jovens, como tem sido a relação com os mais novos e com os novos moradores?
Pe. Rui – Trazer mais jovens e animá-los a trabalhar com a paróquia em diversas iniciativas tem sido preocupação habitual. Concretamente – e para além das actividades a eles especificamente dedicadas (catequese e escuteiros, estes devem ser perto de oitenta, grupo de acólitos, etc.) – há quem ajude, por exemplo, no site da paróquia, no Boletim Paroquial, na acção socio-caritativa, etc. Mas aqui temos de esforçar-nos para chamar e chegar a muito mais gente.
Quanto aos novos moradores, há quem se apresente voluntariamente, indicando que chegaram a Telheiras há pouco tempo, e aqueles que vamos conhecendo, quer pela frequência dos cursos que apontámos, quer pela organização de processos matrimoniais ou de baptismo.
P. – Qual a proporção de praticantes na sua Paróquia no total da população?
Pe. Rui – Não tenho dados exactos. Posso dizer que no total das missas de preceito, aos fins-de-semana e nos dias santos, a frequência – dependendo das alturas do ano – pode chegar aos seiscentos fiéis. Gostava, a este respeito, de esclarecer que, em Lisboa, e, em geral, nos centros urbanos mais populosos, o conceito de paróquia é muito fluído. As pessoas praticantes, com frequência, vão à missa da igreja que mais lhe convém, ou de que mais gostam, e não tanto à da sua paróquia. Telheiras é uma zona de Lisboa onde um número assinalável de famílias tem a sua casa de fim-de-semana, à beira mar ou no campo, e é, nestes casos, nesses lugares que cumprem habitualmente o preceito de ir à Missa. Um dado positivo que registo é o facto de ter aumentado gradualmente o número de comunhões, pois foi necessário comprar cada vez mais hóstias para satisfazer a "procura" crescente dos fiéis que recebem a Eucaristia.
P. – Para concluir, que mensagem quer deixar aos moradores da sua paróquia, que não são crentes, ou que o são, mas não praticam?
Pe. Rui – Como é minha obrigação, rezo por eles, lembrando-os a todos na oração. Peço a bênção de Deus para todos os telheirenses, não distinguindo aqui católicos de não católicos. A "minha" Igreja está aberta a todos, primeiro aos que estão próximos de mim pela Fé, mas não só. Os que tiverem problemas espirituais e materiais, apareçam. Oiço a todos: aos que têm dúvidas de fé ou conflitos de consciência., ou que queiram desabafar algum problema que os perturba. A todos convido, mesmo aos não crentes, a visitarem a Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu. Podem levar um folheto sobre a sua história e arquitectura, cuja nova edição saiu há pouco tempo. É esta a minha mensagem – de caridade e de estima, para todos!
(Fonte: site da Paróquia de Nossa Senhora da Porta do Céu AQUI)
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