Mais uma vez uma decisão de Bento XVI volta a ser pintada com cores fortes, previamente constituídas e sobretudo muito distantes da realidade. Infelizmente quem o faz é, de novo, Hans Küng, o teólogo suíço seu antigo colega e amigo, que o próprio Papa em 2005, só cinco meses depois da sua eleição, quis encontrar, a titulo de amizade, para debater sobre as bases éticas comuns das religiões e da relação entre razão e fé. E isto apesar de Küng ter sido, em 1979, no inicio do pontificado de João Paulo II, sancionado por algumas das suas posições pela Congregação para a Doutrina da Fé (então guiada pelo Ccardeal croata Franjo Seper) que, no final de um procedimento iniciado nos últimos anos de Paulo VI, declarou não poder considerá-lo um teólogo católico.
Desde então, várias vezes, Küng, infalivelmente retomado por influentes meios de comunicação, voltou a criticar, com aspereza e sem fundamento, Bento XVI. Como faz agora relançado com clamor na Inglaterra por "The Guardian" e na Itália por "la Repubblica", que certamente não serão os únicos jornais no mundo que publicarão o seu artigo a propósito do anúncio, deveras histórico, por parte da Santa Sé da próxima constituição de estruturas canónicas que permitirão a entrada na comunhão com a Igreja católica de muitos anglicanos. Um gesto que se destina a reconstituir a unidade querida por Cristo e reconhece o longo e fadigoso caminho ecuménico realizado neste sentido, mas que é deturpado e representado enfaticamente como se se tratasse de uma astuta operação de poder que deve ser lida em chave política, naturalmente de extrema-direita.
Não vale a pena minimamente ressaltar as falsidades e as inexactidões deste último escrito de Küng, cujas tonalidades mais uma vez não honram a sua história pessoal e nalguns aspectos aproxima-se da comicidade, ignorando propositadamente os factos e chegando até a escarnecer do primaz anglicano, que assinou uma declaração conjunta com o arcebispo de Westminster. Mas infelizmente o artigo do teólogo suíço vai circular muito e contribuirá para uma representação tanto fosca quanto infundada da Igreja Católica e de Bento XVI. Para resumir a actual situação à qual teria chegado a Igreja Católica com o Papa actual, Küng escreve que se trata de uma tragédia. Não é o caso de incomodar palavras tão hiperbólicas para definir o seu artigo, mesmo se permanece muita amargura perante mais um ataque gratuito à Igreja de Roma e ao seu indiscutível compromisso ecuménico.
Giovanni Maria Vian - Director
(© L'Osservatore Romano - 31 de Outubro de 2009)
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