Os copistas medievais e o século XXI. Cultura e Curiosidades.
Na Idade Média os livros eram escritos à mão pelos copistas. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço, nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem econômica: a tinta e o papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um 'm' ou um 'n') que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra. O nome espanhol Francisco, que também era grafado 'Phrancisco' , ficou com as abreviaturas 'Phco' e 'Pco'. Daí, foi fácil o nome Francisco
ganhar, em espanhol, o diminutivo Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas.
Assim, o nome de São José aparecia seguido de 'Jesus Christi Pater Putativus', ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a abreviatura 'JHS PP' e depois 'PP'. A pronúncia dessas letras em sequência explica por que José, em espanhol, tem
o diminutivo Pepe.
Já para substituir a palavra latina 'et' ('e'), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como ' e' comercial e, em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do 'and' ('e' em inglês) + 'per se' (do latim 'por
si') + 'and'.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina 'ad' , que tinha, entre outros, o sentido de 'casa de'.
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço; por exemplo, o registro contabilístico '10@£3' significava '10 unidades ao preço de 3 libras cada uma'.
Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês, 'at' ('a' ou 'em').
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha) ,o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contabilísticas dos ingleses.
Como os espanhois desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @, supuseram, por engano, que o símbolo seria uma unidade de peso.
Para este entendimento contribuíram duas coincidências:
1- A unidade de peso comum para os espanhois, na época, era a arroba, cujo 'a' inicial lembra a forma do símbolo.
2- Os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba.
Dessa forma, os espanhois interpretavam aquele mesmo registo de '10@£3' como 'dez arrobas a 3 libras cada uma'. Então, o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhois para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa 'a quarta parte': arroba (15 kg em números redondos) correspondia a 1/4 de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal (58,75 kg).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados) . O teclado tinha o símbolo '@', que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio electrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido '@' ('at' em inglês), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim, Fulano@ProvedorX passou a significar 'Fulano no provedor (ou na casa) X'.
Em diversos idiomas, o símbolo '@' ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma: em italiano, chiocciola (caracol); em sueco, snabel (tromba de elefante); em holandês, apestaart (rabo de macaco).
Noutros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: strudel; na Áustria; pretzel, em vários países europeus.
Pesquisa e colaboração: Adriana Chemite, taquígrafa da CMSP
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