Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino
Comentário sobre o Evangelho de João, 13; PL 169, 789 (a partir da trad. Tournay rev.)
«Eis a tua mãe!»
«Mulher, eis o teu filho!» «Eis a tua mãe!» Com que direito passa o discípulo que Jesus amava a ser filho da Mãe do Senhor? Com que direito é Ela sua Mãe? É que Aquela que trouxera ao mundo, então de forma indolor, a causa da salvação de todos, ao dar à luz na carne o Deus feito homem, é com enorme dor que agora dá à luz, de pé junto à cruz.
Na hora da Sua paixão, o Senhor tinha comparado os Seus apóstolos a uma mulher que dá à luz, ao dizer: «A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem» (Jo 16, 21). Quanto mais compararia tal Filho tal Mãe - essa Mãe que esteve de pé junto à cruz - a uma mulher que dá à luz! Comparar? Mas Ela é verdadeiramente mulher e verdadeiramente mãe e, nesta hora, tem verdadeiras dores de parto. Ela não tinha sofrido as dores do parto como as outras mulheres quando lhe nascera o Filho; é agora que as sofre, que é crucificada, que sente a tristeza de quem dá à luz porque chegou a sua hora (cf Jo 13, 1; 17, 1). [...]
Quando tiver passado esta hora, quando esta espada de dor tiver trespassado por completo a sua alma que dá à luz (Lc 2, 35), também Ela já se não lembrará da aflição, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem, o homem novo, que renova todo o género humano e reina sem fim sobre o mundo inteiro, verdadeiramente nascido, ultrapassado todo o sofrimento, imortal, primogénito de entre os mortos. Tendo assim trazido ao mundo a salvação de todos nós na paixão de seu único Filho, a Virgem é claramente a Mãe de todos nós.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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