São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermão 7 sobre o Cântico dos Cânticos
«Por causa do seu grande amor»
«Beija-me com ósculos da tua boca» (Ct 1, 2). Quem fala assim? A esposa [do Cântico dos cânticos]. E quem é esta esposa? É a alma associada a Deus. E a quem fala ela? Ao seu Deus. [...] Não se saberia encontrar palavras mais ternas, para exprimir a ternura recíproca de Deus e da alma, que estas do Esposo e da esposa. Tudo lhes é comum, não possuem nada próprio nem à parte. Única é a sua herança, única a sua mesa, única a sua casa, única mesmo a carne que em conjunto eles constituem (Gn 2, 24). [...]
Se a palavra amar convém especialmente e em primeiro lugar aos esposos, não é sem boas razões que se dá o nome de esposa à alma que ama Deus. A prova de que ela ama é que pede a Deus um beijo. Não deseja nem a liberdade, nem uma recompensa, nem uma herança, nem mesmo um ensinamento, mas um beijo, ao jeito de uma esposa casta, elevada por um santo amor e incapaz de esconder a chama que a queima. [...]
Sim, o seu amor é casto pois ela deseja apenas Aquele que ama, e não qualquer coisa que lhe pertença. O seu amor é santo, porque ela ama não num desejo pesado da carne, mas na pureza do espírito. O seu amor é ardente pois, inebriada por este mesmo amor, esquece a grandeza de Quem ama. Não é Ele, com efeito, que com um olhar faz tremer a terra? (Sl 103, 32). E é a Ele que ela pede um beijo? Não estará embriagada? Sim, está embriagada de amor pelo seu Deus. [...] Que força a do amor! Que confiança e que liberdade no Espírito! Nem há maneira mais clara de manifestar que «o amor perfeito afasta o temor» (1Jo 4, 18).
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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