Amados irmãos e irmãs!
No termo da dramática narração da Paixão, o evangelista São Marcos escreve: «O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-Lo expirar daquela maneira, exclamou: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”» (Mc 15, 39). Não pode deixar de surpreender-nos a profissão de fé deste soldado romano, que tinha assistido às sucessivas fases da crucifixão. Quando as trevas da noite se preparavam para descer sobre aquela Sexta-feira única na história, quando já o sacrifício da Cruz se tinha consumado e os presentes se apressavam para poder celebrar regularmente a Páscoa hebraica, as poucas palavras, escapadas dos lábios de um anónimo comandante do exército romano, ressoaram no silêncio diante daquela morte muito singular. Este oficial do exército romano, que assistira à execução de um de tantos condenados à pena capital, soube reconhecer naquele Homem crucificado o Filho de Deus, que expirou no abandono mais humilhante. O seu fim ignominioso deveria ter determinado o triunfo definitivo do ódio e da morte sobre o amor e sobre a vida. Mas não foi assim! No cimo do Gólgota, erguia-se a Cruz da qual pendia um homem já morto, mas aquele homem era o «Filho de Deus», como não pôde deixar de confessar o centurião, «ao vê-Lo expirar daquela maneira» – especifica o evangelista.
A profissão de fé deste soldado é-nos proposta todas as vezes que voltamos a ouvir a narração da Paixão segundo São Marcos. Nesta noite também nós, como ele, nos detemos a fixar o rosto exânime do Crucificado, no fim da devoção habitual da Via-Sacra que reuniu, graças à rádio e à televisão, muita gente de toda a parte do mundo. Revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-Se matar pregado numa cruz. Este Homem, aparentemente um de nós e no entanto perdoa aos seus algozes que o matavam, é o «Filho de Deus», que – como nos recorda o apóstolo Paulo – «não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo (…), humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 6-8).
A dolorosa paixão do Senhor Jesus não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Observa São João: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milénios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo? Observa Santo Agostinho: «Ficarias sempre num estado de miséria, se Ele não tivesse usado de misericórdia contigo. Não terias voltado a viver, se Ele não tivesse partilhado a tua morte. Terias desfalecido, se Ele não tivesse vindo em teu auxílio. Ter-te-ias perdido, se Ele não tivesse chegado» (Discurso 185, 1). Então porque não acolhê-Lo na nossa vida?
Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflecte-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições.
Irmãos e irmãs! Enquanto se destaca a Cruz sobre o Gólgota, o olhar da nossa fé projecta-se para alvorada do Dia novo e saboreamos já a alegria e o fulgor da Páscoa. «Se morremos com Cristo – escreve São Paulo – acreditamos que também com Ele viveremos» (Rm 6, 8). Com esta certeza, continuemos o nosso caminho. Amanhã, Sábado Santo, vigiaremos rezando juntos com Maria, a Virgem Nossa Senhora das Dores, preparando-nos assim para celebrar, na solene Vigília Pascal, o prodígio da ressurreição do Senhor.Desde já desejo a todos uma Páscoa feliz, na luz do Senhor ressuscitado.
(Fonte: Radio Vaticana, fotos a partir da transmissão em directo no You Tube - Canal do Vaticano)
No termo da dramática narração da Paixão, o evangelista São Marcos escreve: «O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-Lo expirar daquela maneira, exclamou: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”» (Mc 15, 39). Não pode deixar de surpreender-nos a profissão de fé deste soldado romano, que tinha assistido às sucessivas fases da crucifixão. Quando as trevas da noite se preparavam para descer sobre aquela Sexta-feira única na história, quando já o sacrifício da Cruz se tinha consumado e os presentes se apressavam para poder celebrar regularmente a Páscoa hebraica, as poucas palavras, escapadas dos lábios de um anónimo comandante do exército romano, ressoaram no silêncio diante daquela morte muito singular. Este oficial do exército romano, que assistira à execução de um de tantos condenados à pena capital, soube reconhecer naquele Homem crucificado o Filho de Deus, que expirou no abandono mais humilhante. O seu fim ignominioso deveria ter determinado o triunfo definitivo do ódio e da morte sobre o amor e sobre a vida. Mas não foi assim! No cimo do Gólgota, erguia-se a Cruz da qual pendia um homem já morto, mas aquele homem era o «Filho de Deus», como não pôde deixar de confessar o centurião, «ao vê-Lo expirar daquela maneira» – especifica o evangelista.
A profissão de fé deste soldado é-nos proposta todas as vezes que voltamos a ouvir a narração da Paixão segundo São Marcos. Nesta noite também nós, como ele, nos detemos a fixar o rosto exânime do Crucificado, no fim da devoção habitual da Via-Sacra que reuniu, graças à rádio e à televisão, muita gente de toda a parte do mundo. Revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-Se matar pregado numa cruz. Este Homem, aparentemente um de nós e no entanto perdoa aos seus algozes que o matavam, é o «Filho de Deus», que – como nos recorda o apóstolo Paulo – «não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo (…), humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 6-8).
A dolorosa paixão do Senhor Jesus não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Observa São João: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milénios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo? Observa Santo Agostinho: «Ficarias sempre num estado de miséria, se Ele não tivesse usado de misericórdia contigo. Não terias voltado a viver, se Ele não tivesse partilhado a tua morte. Terias desfalecido, se Ele não tivesse vindo em teu auxílio. Ter-te-ias perdido, se Ele não tivesse chegado» (Discurso 185, 1). Então porque não acolhê-Lo na nossa vida?
Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflecte-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições.
Irmãos e irmãs! Enquanto se destaca a Cruz sobre o Gólgota, o olhar da nossa fé projecta-se para alvorada do Dia novo e saboreamos já a alegria e o fulgor da Páscoa. «Se morremos com Cristo – escreve São Paulo – acreditamos que também com Ele viveremos» (Rm 6, 8). Com esta certeza, continuemos o nosso caminho. Amanhã, Sábado Santo, vigiaremos rezando juntos com Maria, a Virgem Nossa Senhora das Dores, preparando-nos assim para celebrar, na solene Vigília Pascal, o prodígio da ressurreição do Senhor.Desde já desejo a todos uma Páscoa feliz, na luz do Senhor ressuscitado.
(Fonte: Radio Vaticana, fotos a partir da transmissão em directo no You Tube - Canal do Vaticano)
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