Escreve-vos de coração aberto um seropositivo em VIH/HIV, que embora não se encontrando no fulgor da sua juventude, optou pela abstinência total, ou seja, dentro do matrimónio, já que hoje não conceberia ter relações fora deste.
Porquê tal decisão? Por amor a Deus Nosso Senhor que sempre me protegeu e à minha muito amada mulher, que graças a Ele não cheguei a contagiar. Perguntar-me-ão, foi difícil a opção assumida? Dir-vos-ei com toda a honestidade, cresceu dentro de mim naturalmente e sempre que a tentação me bate à porta, agradeço ao Senhor por me pôr à prova e “parto para outra…”.
É difícil à Igreja transmitir no mundo de hoje a opção pela abstinência, mas não tenho dúvidas que com a adequada formação espiritual e de cidadania no que ao respeito pelo próximo concerne, a mensagem conseguirá passar.
Dito isto, subscrevo no entanto as palavras na Mensagem de Quaresma de D. Ilído Leandro, Bispo de Viseu, «…, quando a pessoa infectada não prescinde das relações e induz o(a) parceiro(a) (conhecedor ou não da doença) à relação, há obrigação moral de se prevenir e de não provocar a doença na outra pessoa. Aqui, o preservativo não somente é aconselhável como poderá ser eticamente obrigatório.»
D. Ilídio começa por apoiar o Santo Padre explicando-nos «O Papa, quando fala da SIDA/AIDS ou de outros aspectos da vida humana, não pode fazer doutrina para situações individuais e casos concretos.» […] «Ainda bem que o Papa não cede a tentações de simpatia, facilitismo ou conveniência!... Esta é parte da sua cruz pascal (também da Igreja, dos Bispos, dos Sacerdotes, dos Cristãos) – ter valores e causas a defender para a realização integral da pessoa humana e gastar a vida por eles, ao serviço da dignidade e sentido da pessoa e da sua plenitude. Será falta de hábito e de cultura da exigência e da honestidade, numa sociedade tão relativa, tão mínima e tão pouca ambiciosa e coerente na defesa das pessoas e dos seus valores? Será tão fácil o escândalo farisaico de quem não sabe interpretar as diferenças entre valores e princípios gerais, por um lado e situações concretas e pessoais, por outro?»
Peço-vos, com toda a humildade que me vai no coração, que rezem por todos os seropositivos, incluindo o signatário, para que saibam sempre em total amor ao próximo, não se transformar em factores de transmissão da doença, seja preferencialmente pela abstinência, no que às relações sexuais se refere, seja no dia-a-dia, e.g., quando recorrem a actos clínicos, tão simples como o fazer análise de sangue, de informar o profissional de saúde que irá fazer a colheita da sua condição, sentirão destes uma reacção de surpresa e de enorme gratidão ou quando fruto do acaso sangram diante de terceiros, não permitindo a aproximação destes ao local e tentando, se possível, praticar o acto curativo em si próprio. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» (Mc 12,31)
«Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo Meu nome.» (Act 9, 16)
(JPR)
P.S. – Este texto estava nas suas linhas gerais escrito há já vários dias, pelo que a sua publicação não é fruto de um impulso, mas de muita meditação e oração, ao publicá-lo apenas procuro servir o Senhor, manifestando-Lhe o meu amor, bem como ao meu próximo.
Obrigado pela vossa compreensão!
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