50. A dimensão sociopolítica da reconciliação. Certas sociedades africanas foram levadas à ruína pelos seus dirigentes políticos. Alguns países foram o teatro de cenas trágicas de xenofobia, onde o estrangeiro simbolizava todos os males da sociedade e servia de bode expiatório: seres humanos foram queimados vivos, feitos em pedaços, famílias foram dispersadas, aldeias destruídas. Noutros países, confirmam algumas Igrejas particulares, certos partidos políticos utilizaram a fibra étnica, tribal ou regional para atrair populações à sua causa na conquista do poder, em vez de favorecer o viver em conjunto.
51. A dimensão socioeconómica da reconciliação. Notámos que a má gestão e a miséria que ela engendrou provocaram o tráfico de seres humanos, a exploração comercial da prostituição e o trabalho de menores; contribuiu em grande parte a destruir os laços de família, desestabilizar comunidades humanas inteiras e mandar para a estrada milhares de refugiados. Ao nível das nações, as zonas ricas em recursos petrolíferos ou mineiros tornaram-se rapidamente focos de conflitos, até mesmo de guerras entre povos vizinhos e nações.
52. A dimensão sociocultural da reconciliação. Alguns meios de comunicação (rádio, imprensa escrita, televisão) difundiram informações e imagens que incitaram as populações à violência e ao ódio, causando sérios danos aos valores que cimentavam o tecido familiar e social: o respeito pelos anciãos, as mulheres como mães e protectoras da vida, etc. As populações estão preocupadas com a perda crescente de identidade cultural, sobretudo por parte da juventude. E o olhar condescendente sobre a Religião Tradicional Africana acentua a desvalorização dos valores que deveriam constituir o património africano. Nota-se que esta relação com a religião do outro transforma-se, em certas partes do continente, em verdadeira rivalidade entre cristãos e muçulmanos.
INSTRUMENTUM LABORIS Cap. II, I, 1. 50-52
(Fonte: site da Santa Sé)
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