Ao meio dia de sábado, 1 de Novembro, o Santo Padre guiou a oração mariana juntamente com os fiéis presentes na Praça de São Pedro.
Queridos irmãos e irmãs!
Celebramos hoje com grande alegria a festa de Todos os Santos. Visitando um viveiro botânico, permanece-se admirados diante da variedade de plantas e flores, e é espontâneo pensar na fantasia do Criador que tornou a terra um maravilhoso jardim. Análogo sentimento nos surpreende quando consideramos o espectáculo da santidade: o mundo parece-nos um "jardim", onde o Espírito de Deus suscitou com admirável fantasia uma multidão de santos e santas, de todas as idades e condições sociais, de todas as línguas, povos e culturas. Cada um é diferente do outro, com a singularidade da própria personalidade humana e do seu carisma espiritual. Mas todos têm impressa a "marca" de Jesus (cf. Ap 7, 3), ou seja, o distintivo do seu amor, testemunhado através da Cruz. Estão todos na alegria, numa festa sem fim, mas, como Jesus, conquistaram esta meta passando através da fadiga e da prova (cf. Ap 7, 14), enfrentando cada qual a própria parte de sacrifício para participar na glória da ressurreição.
A solenidade de Todos os Santos foi-se afirmando ao longo do primeiro milénio cristão como celebração colectiva dos mártires. Já em 609, em Roma, o Papa Bonifácio iv tinha consagrado o Panteão dedicando-o à Virgem Maria e a todos os Mártires. Aliás, podemos ver este martírio em sentido lato, ou seja, como amor a Cristo sem hesitações, amor que se expressa na doação total de si a Deus e aos irmãos. Esta meta espiritual, para a qual todos os baptizados se sentem propensos, alcança-se seguindo o caminho das "bem-aventuranças" evangélicas, que a liturgia nos indica na solenidade de hoje (cf. Mt 5, 1-12a). É o mesmo caminho traçado por Jesus e que os santos se esforçaram por percorrer, conscientes dos seus limites humanos. Na sua existência terrena, de facto, foram pobres em espírito, sofredores pelos pecados, mansos, famintos e sedentos de justiça, misericordiosos, puros de coração, artífices de paz, perseguidos por causa da justiça. E Deus participou-lhes a sua mesma felicidade: pregustaram-na neste mundo e, no além, gozam dela em plenitude. São agora confortados, herdeiros da terra, saciados, perdoados, vêem Deus do qual são filhos. Numa palavra: "é deles o Reino dos céus" (cf. Mt 5, 3.10).
Neste dia sentimos reavivar em nós a atracção para o Céu, que nos estimula a apressar o passo da nossa peregrinação terrena. Sentimos acender nos nossos corações o desejo de nos unirmos para sempre à família dos santos, da qual já agora temos a graça de fazer parte. Como diz um célebre canto espiritual: "Quando vier a multidão dos teus santos, como gostaria, Senhor, de estar entre eles!". Possa esta bonita aspiração arder em todos os cristãos, e ajudá-los a superar todas as dificuldades, qualquer receio, todas as tribulações! Queridos amigos, ponhamos a nossa mão na mão materna de Maria, Rainha de todos os Santos, e deixemo-nos conduzir por ela rumo à pátria celeste, na companhia dos espíritos bem-aventurados "de todas as nações, povos e línguas" (Ap 7, 9). E unamos já na oração a lembrança dos nossos queridos defuntos que amanhã comemoraremos.
L’Osservatore Romano – 28/XI/2008 – edição em português
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