A “vastidão” e a “qualidade” do magistério de Pio XII, “figura de grande densidade histórico-teológica” – foram exaltadas por Bento XVI, na audiência concedida neste Sábado aos participantes no Congresso sobre “a herança do magistério de Pio XII e o Concílio Vaticano II”, promovido pelas Universidade Gregoriana e Lateranense, por ocasião dos 50 anos da morte do Papa Pacelli.
Bento XVI congratulou-se com a escolha do tema que permite lançar um olhar mais abrangente sobre uma importante figura por vezes abordada de modo redutivo: “Nos últimos anos, quando se falou de Pio XII, a atenção concentrou-se de modo excessivo sobre uma única problemática, tratada aliás de modo bastante unilateral. À parte qualquer outra consideração, isso tem impedido uma abordagem adequada de uma figura de grande densidade histórico-teológica como é a do Papa Pio XII”.
Detendo-se antes de mais na “vasta e benéfica amplidão” do magistério deste seu antecessor, Bento XVI referiu as mais de 40 Encíclicas por ele publicadas, assim como os muitíssimos discursos e radiomensagens. De entre as primeiras, o Papa evocou expressamente, antes de mais a “Mystici Corporis”, sobre a natureza da Igreja; a “Divino afflante Spiritu”, sobre a Sagrada Escritura; a “Mediator Dei”, sobre a Liturgia.
Referido também o modo consistente com que Pio XII tratou das várias categorias de pessoas, (padres, religiosos e leigos), e mesmo dos problemas das diversas profissões (por exemplo, os juízes, advogados, agentes sociais, médicos), sem esquecer a importância dos meios de comunicação, e as ciências, com os seus extraordinários progressos.
Bento XVI recordou também “os longos e inspirados discursos sobre o desejado reordenamento da sociedade civil, nacional e internacional, e ainda o seu ensinamento mariológico, que culminou na proclamação do dogma da Assunção de Maria, “com a qual o Santo Padre desejava sublinhar a dimensão escatológica da nossa existência, exaltando ao mesmo tempo a dignidade da mulher”.
Sobre a “qualidade” do ensinamento de Pio XII, Bento XVI fez notar que aquele seu predecessor “era contrário a improvisações”: “Escrevia com o maior cuidado cada um dos seus discursos, ponderando bem cada frase e cada palavra, antes de as pronunciar em público. Estudava atentamente as várias questões e tinha o hábito de pedir conselho a eminentes especialistas, quando se tratava de temas que requeriam uma competência particular”.
“Por natureza e carácter, Pio XII era um homem comedido e realista, alheio a optimismos fáceis, mas era por outro lado imune do perigo daquele pessimismo que não se ajusta ao crente. Detestava as polémicas estéreis e desconfiava profundamente do fanatismo e do sentimentalismo.
Estas suas atitudes interiores mostram o valor e a profundidade do seu ensinamento, digno de confiança, e explicam a adesão confiante que lhe foi reservada não só pelos fiéis mas mesmo por muitas pessoas não pertencentes à Igreja”.
Bento XVI mencionou ainda a “inteligência fora do comum” e a “memória de ferro” que todos reconhecem em Pio XII, assim como a “singular familiaridade com as línguas estrangeiras e uma notável sensibilidade”. “Afirmou-se que era um perfeito diplomata, um eminente jurista, um óptimo teólogo. Tudo isto é verdade, mas não explica tudo. Havia também nele o contínuo esforço e a firme vontade de se dar a si mesmo a Deus sem se poupar e sem se preocupar com a sua saúde débil”. Aqui se vê “o verdadeiro móbil do seu comportamento”:
“Tudo nascia do amor pelo seu Senhor Jesus Cristo e do amor à Igreja e à humanidade. De facto, ele era antes de mais o sacerdote em constante e íntima união com Deus, o sacerdote que encontrava a força para o seu trabalho ingente em longos tempos de oração diante do Santíssimo Sacramento, em colóquio silencioso com o seu Criador e Redentor”.
Daí partia, aí se inspirava o magistério de Pio XII, que, a 50 anos da sua morte, “permanece também para os cristãos de hoje um valor inestimável”. Tal não quer dizer que a Igreja, “organismo vivo e vital”; continue “agarrada e imobilizada sobre aquilo que era há 50 anos atrás” – advertiu Bento XVI. “Mas o desenvolvimento realiza-se na coerência. Foi por isso que a herança do magistério de Pio XII foi recolhida pelo Concílio Vaticano II e proposta de novo às sucessivas gerações cristãs”.
(Fonte: site Radio Vaticana)
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