S. João Crisóstomo nasceu em meados do século IV, em Antioquia (Síria, Ásia Menor) procedente de família muito rica e respeitada pela sociedade e pelo Estado. O seu pai foi comandante das tropas imperiais no Oriente, tendo falecido pouco tempo depois. Mas a sua mãe, Antusa, mulher piedosa e caridosa, canonizada Santa, providenciou que o filho fosse educado pelos maiores mestres do seu tempo, tanto na área científica como na espiritual.
Desde muito jovem, manifestou vocação religiosa e grande inteligência. Só não se tornou eremita no deserto por insistência da mãe. Mas, após a sua morte, já conhecido pela sabedoria, prudência e oratória eloquente, foi viver na companhia de um monge no deserto durante quatro anos.
Baptizou-se aos vinte anos e pelos trinta foi ordenado diácono. Passou dois anos retirado numa gruta sozinho, estudando as Sagradas Escrituras e, então, considerou-se pronto. Voltou para Antioquia e ordenou-se sacerdote.
A sua cidade vivia a efervescência de uma revolta contra o imperador Teodósio I. O povo quebrava estátuas do imperador e de membros da sua família. Teodósio, em troca, agia ferozmente contra tudo e contra todos. Membros do senado estavam presos, famílias inteiras tinham fugido e o povo só encontrava consolo nos discursos e pregações de S. João, chamado por eles de Crisóstomo, i.e.: "boca de ouro". Tanto que foi o incumbido de dar à população a notícia do perdão imperial.
Com o passar dos anos, a fama do santo aumentava e, quando morreu o Bispo de Constantinopla, João foi eleito para sucedê-lo.
Constantinopla era a grande capital do Império Romano, que havia transferido o centro da economia e cultura do mundo de então para a Ásia Menor.
Entretanto para João era apenas um local onde o clero estava mais preocupado com os poderes e luxos terrenos do que os espirituais. Lá reinavam a ambição, a avareza, a política e a corrupção moral. Como Bispo, abandonou, então, os discursos e dispôs-se a enfrentar a luta e, como consequência, a perseguição. Foi Patriarca de Constantinopla durante os últimos seis anos da sua vida.
Arranjou inimigos tanto entre o clero quanto na Corte. Todos, liderados pela imperatriz Eudóxia, conseguiram afastar S. João Crisóstomo do cargo e condená-lo ao exílio.
Porém, a expulsão da cidade provocou revolta tão intensa na população que o Bispo foi trazido de volta para reassumir seu cargo.
Dois meses depois, foi exilado pela segunda vez. Agora, já com a saúde muito debilitada, não tendo resistido e vindo a falecer a 14 de Setembro de 407 (ou 404?) algumas biografias situam a data da sua morte em 404, o exílio de Comane (Turquia).
As suas últimas palavras foram: "Senhor, seja feita a vossa vontade em todas as coisas, assim na terra como no céu."
A sua honra só foi limpa quando morreu a família imperial e voltou a paz entre o clero na Igreja, tendo o Papa ordenado o restabelecimento de sua memória.O corpo de João Crisóstomo foi trazido de volta a Constantinopla em 438, num longo cortejo em procissão solene.
Mais tarde, por volta de 1204, as suas relíquias foram trasladadas para Roma, onde repousam na Basílica de S. Pedro desde o século XVII.
Dos seus numerosos escritos destaca-se o pequeno livro "Sobre o sacerdócio", um clássico da espiritualidade monástica.
S. João Crisóstomo é venerado um dia antes da data de sua morte, em 13 de Setembro, com o título de Doutor da Igreja, sendo considerado um modelo para os oradores clérigos.
S. Pio X proclamou-o patrono dos oradores sagrados, pois deixou-nos cerca de 600 discursos e sermões cheios de realismo, força e espiritualidade inspirando-se muito no Apóstolo S. Paulo:
"Se alguma coisa sei, devo-a ao carinho com que leio diariamente as suas cartas."
(Diversas fontes com edição de JPR)
«Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a Sua resposta por escrito, leio a Sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza.Que diz a Escritura? "Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo". Cristo está comigo: a quem hei-de temer?»
(Homilias - S. João Crisóstomo)
Sem comentários:
Enviar um comentário