O Canadá, conhecido pela beleza
natural e pelo desenvolvimento social e económico, está cheio de desafios para
a Igreja, pela agressividade sexual, a decadência de costumes e, como se não bastasse,
pela consciência recente de que houve prepotências durante a primeira
evangelização.
A vida cristã não é fácil. A
intolerância do Estado Canadiano vai ao ponto de não reconhecer sequer o
direito à objecção de consciência, mesmo em matérias sensíveis, como a recusa a
colaborar num aborto, ou num casamento homossexual, ou a recusa a provocar a
morte de uma pessoa idosa ou doente. A militância anticristã impede
praticamente que um cristão, em particular um católico, ocupe lugares
destacados na sociedade. Cerca de 40% da população sente afinidade com a Igreja
católica, mas a falta de assiduidade à Missa dominical, à Confissão e aos outros
sacramentos é dramática: o país que o Papa visita requer um fôlego renovado de
evangelização.
Por outro lado, alguns descendentes
das tribos nativas acusam a Igreja católica e as igrejas protestantes de terem
procurado converter os seus antepassados à força. A história não parece simples.
Houve prepotência de uns europeus e generosidade de outros europeus. Por vezes,
os que procuraram ajudar as populações pobres foram pouco compreensivos da
sensibilidade local. A mesma pessoa fez coisas edificantes e coisas más. Houve
de tudo, naquele país disperso por milhares de quilómetros de florestas e paisagens
geladas. A principal queixa é que, para ajudar as populações nativas, o Governo
canadiano promoveu, a partir de 1870, uma rede de 130 colégios internos que ficaram
ao cuidado de diversas entidades, nomeadamente anglicanas e protestantes, mas também,
pelo menos uma dúzia, orientados por católicos. Apesar da boa intenção, houve
várias falhas nesses 130 colégios internos para nativos. Frequentemente, acolhiam
crianças retiradas aos pais, forçadas a ir à escola, a disciplina era demasiado
severa, os colégios eram demasiado pobres, o ensino era deficiente e transmitia
às crianças nativas a ideia de que a sua cultura de origem não tinha valor.
No Domingo passado, o Papa
resumiu assim este tema central da sua viagem:
— «Infelizmente, no Canadá, muitos
cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para
políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente as
comunidades nativas, de várias formas. Por esta razão, recebi recentemente no
Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, a quem manifestei o
meu pesar e solidariedade pelos danos que sofreram. E agora preparo-me para
empreender uma peregrinação penitencial que espero, com a graça de Deus, contribua
para o caminho de cura e reconciliação já empreendido. (…) Peço-vos que me
acompanheis em oração».
Uma epidemia de varíola dizimou a
família e ela sobreviveu, mas ficou com marcas na cara. Foi recolhida na tribo,
acompanhada por outros índios, uns católicos, outros não, até que aos 19 anos entrou
em contacto com uma missão, decidiu formar-se e receber o baptismo. Quando tinha
10 anos, o exército francês atacou a aldeia dos Mohawk, destruiu tudo e obrigou-os
a refugiarem-se numa floresta gelada do Norte. Quando tinha 13 anos, centenas
de guerreiros Mohican cercaram a aldeia com grande violência, mas a defesa conseguiu
chamar reforços e os atacantes acabaram largamente dizimados e torturados. O líder
da defesa converteu-se ao catolicismo. Parte da aldeia converte-se, outros proíbem
os filhos de se aproximar das missões. Kateri Tekakwitha vence a oposição dos
familiares, consegue baptizar-se e… é hoje a primeira santa de uma tribo nativa
do Canadá.
Por intercessão de santa Kateri
Tekakwitha, que Deus acompanhe o Papa nesta sua viagem.
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