Muitos associam a Madre Teresa à miséria da Índia, mas a verdade é que as Missionárias da Caridade, ou Irmãs da Madre Teresa, como muita gente lhes chama, têm muito trabalho em Lisboa, em Nova York, em Roma, em Moscovo... onde as sociedades desenvolvidas abandonam os seus moribundos, os seus filhos não desejados. Claro que há uma enorme diferença estética. A morte de um miserável nas vielas da Índia é menos bela que a eutanásia ou o aborto num país rico, um cadáver à porta de casa incomoda mais que um idoso abandonado num lugar onde ninguém o ouve. Mas talvez o desprezo pela dignidade humana não seja diferente.
Esta sede é uma das mensagens
mais fortes do cristianismo. Deus veio à Terra para nos dizer que ser homem ou
mulher é um dom grandioso, que vale a pena viver, a ponto de que Ele próprio
deu a vida por nós, porque nos aprecia sem limites, divinamente. Haverá forma
mais eloquente de falar da dignidade humana?
Nas capelas das Missionárias da
Caridade costuma estar escrito «I thrist», como um lema cheio de ressonâncias
humanas e divinas. Nunca apreciaremos bastante que Deus aplique a Si esta
urgência tão vital e tão humana de quem sente falta de água.
A vida das Missionárias da
Caridade pretende ser uma resposta, talvez inesperada para muita gente, a esta
sede de Deus. João Paulo II, que conheceu muito bem a Madre Teresa e a estimava
muito, disse que a parte mais importante da resposta dela e das Irmãs à sede de
Deus era a oração:
Um colaborador da comunidade de
Lisboa descreve-as como «“contemplativas no coração do mundo”, “levam Jesus ao mundo
e o mundo a Jesus”, amam “até que doa”, estão disponíveis e levantam-se de
noite para ver os seus doentes, para, como uma Mãe, dar a mão e fazer companhia
a um doente mais grave; têm bom humor —esse admirável atributo dos Santos—, são
alegres, pacíficas, compreensivas, simples, afectuosas, resolvem as
dificuldades com bom senso e sentido prático».
A Irmã Frances, superiora da comunidade
de Lisboa, especifica a técnica: «Nalguns sítios onde o trabalho é
particularmente desafiante, duas Irmãs ficam em casa em adoração ao Santíssimo
Sacramento, a interceder pelas outras duas Irmãs que saem».
Olho para uma pequena relíquia da
Madre Teresa que as Irmãs me ofereceram e penso que levo na carteira uma
preciosidade. Ela própria se definia: «De sangue, sou albanesa. De cidadania,
indiana. No referente à fé, sou freira católica. Pela minha vocação, pertenço
ao mundo. No que se refere ao meu coração, pertenço totalmente ao Coração de
Jesus». Não é pouca coisa. Peço a Nosso Senhor que nunca perca a carteira.
José Maria C.S. André
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