Na segunda-feira, 15 de Fevereiro, o Papa difundiu uma vídeo-mensagem em memória dos 21 mártires coptas assassinados pelo ISIS na Líbia há seis anos (15 de Fevereiro de 2015).
O ISIS (iniciais de «Islamic State of Iraq and Syria») é uma organização terrorista constituída na sequência da invasão do Iraque em 2003 que, por sua vez, foi uma resposta aos atentados de 2001 contra as Torres Gémeas nos EUA. Os 21 trabalhadores mortos, a maior parte originários de uma pequena aldeia do Egipto, foram apanhados nesta espiral de vinganças e acabaram decapitados à vista de todo o mundo. De facto, os executores quiseram dar publicidade à sua façanha: alinharam as vítimas na praia de Sirte, amarrados e ajoelhados, e transmitiram a cena para todo o mundo. A um deles, da África Ocidental, ofereceram com insistência a liberdade se renegasse a fé, mas ele respondeu calmamente que era cristão. Hoje em dia, pode assistir-se a um martírio pela internet...
Na vídeo-mensagem de segunda-feira,
Francisco abriu o coração, falando sem papéis. Referiu a brutalidade do ISIS
mas apenas para sublinhar a fé dos que deram a vida por Cristo. A Igreja não
guarda uma lista de agravos, mas cuida com amor da memória dos que são fiéis.
Agradece a Deus o dom desta lealdade e confia em que os amigos que temos no Céu
nos aproximem cada vez mais de Deus. Disse o Papa:
— «Agradeço a Deus ter-nos dado
estes irmãos corajosos. Agradeço ao Espírito Santo que lhes deu a força e a
coerência de confessarem Jesus Cristo até darem o sangue por Ele».
— «Agradeço às mães destes 21
homens que “aleitaram” a sua fé: são as mães do povo santo de Deus que
transmitem a fé “em dialecto próprio”, um dialecto que está para além das
línguas, o dialecto das pertenças».
O Patriarca copto ortodoxo
Tawadros II e o Primado anglicano Justin Welby quiseram juntar-se ao Papa na
comemoração destes 21 mártires, porque há um atractivo extraordinário na
rectidão dos mártires, que ultrapassa as diferenças doutrinais e nos une apesar
delas. João Paulo II falou magistralmente deste poder de convicção na sua
Encíclica «Fides et ratio». E várias vezes, João Paulo II afirmou que «o
testemunho daqueles que confessaram Cristo até derramarem o seu sangue por Ele se
tornou um património comum dos católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes»
(Carta apostólica «Tertio millennio adveniente», 37).
Na vídeo-mensagem, Francisco
disse que os 21 mártires da Líbia «são santos nossos, santos de todos os cristãos,
santos de todas as confissões e tradições cristãs». Referindo-se a uma imagem
do livro do Apocalipse, acrescentou: «Eles lavaram de branco a sua vida com o
sangue do Cordeiro, pertencem ao povo de Deus, ao povo fiel de Deus».
O facto de serem coptos, uma
comunidade cristã não inteiramente unida à Igreja católica, não nos impede de
os sentir como próprios e de os tomar como exemplo. Talvez por isso, o Papa
tenha querido manifestar a sua proximidade com «o santo povo fiel de Deus que,
na sua simplicidade, com a sua coerência e com as suas incoerências, com as
graças e os pecados, mantém a confissão de Jesus Cristo». Sim, porque realmente
este povo santo tem as suas coerências e incoerências, as suas graças e pecados:
junta a fragilidade humana com o fruto da acção divina.
Ao canonizar os mártires do Uganda
em 1964, Paulo VI quis lembrar que morreram juntamente católicos e anglicanos. João
Paulo II sublinhou o mesmo, quando visitou os santuários católico e anglicano
de Namugongo e, mais recentemente, Francisco, quando lá esteve. Estes mártires
realizam um fecundo «ecumenismo do sangue».
Os mártires ugandeses, que
morreram por rejeitarem os convites impuros de um rei homossexual, têm alguma
relação com o nosso presente: como o tribunal deu razão à família de Famalicão,
que não quer que os filhos sejam sexualmente doutrinados pela escola, o Governo
recorreu da sentença, para que, se os pais mantiverem a sua posição, os filhos
tenham de recuar três anos na escola. Crianças que tiveram a classificação
máxima em todas as disciplinas, exceptuando esta!
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