«Sempre fui considerada uma pessoa excessivamente exigente. Procurei exigir-me muito a mim mesmo, sobretudo desde que comecei a minha carreira profissional. Também procurei exigir àqueles que se encontravam à minha volta. Pensava que era essa a minha missão e pensava também — sem admitir outro tipo de raciocínios — que se os outros não conseguiam o mesmo êxito que eu era, simplesmente, porque não se esforçavam tanto».
São palavras de um homem de negócios numa entrevista concedida a uma rádio local. Mais ou menos assim, continuava ele o relato da sua vida: «Custava-me muito compreender que houvesse pessoas que não conseguiam trabalhar ao mesmo ritmo que eu. Tenho de reconhecer que, de algum modo, os maltratava e os desprezava por causa disso. E lá em casa — com a minha mulher e com os meus filhos — era exactamente a mesma coisa. Não admitia falhas de nenhum tipo. As coisas eram para serem feitas custasse o que custasse. O resto eram simples justificações de gente preguiçosa».
«Até que um dia fiquei doente. Uma doença inesperada e totalmente imprevista. E tudo mudou da noite para o dia. Senti-me como um pneu a esvaziar. Comecei a perceber que a vida não era tão simples como eu havia pensado até então. Dei-me conta de que os outros também sofriam. Compreendi que não reparar nessa dor era uma atitude inumana. Assim tinha vivido eu durante tantos anos».
«Antes de ficar doente, eu era exageradamente irascível: tudo me irritava e tudo me fazia ferver em pouca água. Agora, pelo contrário, tornei-me muito mais sereno e compreensivo. O sofrimento temperou-me o carácter. Fez-me compreender que há pessoas neste mundo — à nossa volta — que sofrem muito. Há pessoas que vivem com muitas dificuldades — talvez, em parte, por culpa nossa. Cada um de nós devia aprender a deter-se diante do sofrimento dos outros e fazer o possível por remediá-lo».
«Às vezes, só é possível consolar. Isso não é pouco, nem muito menos algo inútil. Aprendi que, com o simples fluir de palavras que infundem esperança, já se alivia muito o coração de quem sofre. Quantas pessoas necessitadas de compreensão e de consolo neste mundo! Quanta pobreza espiritual! — tantas vezes maior e mais envergonhada que a pobreza material».
É um relato de vida que faz pensar. Como é diferente o modo como as pessoas encaram os sofrimentos nesta vida: a umas, ele parece que as torna mais humanas; a outras, pelo contrário, faz-lhes perder a esperança e a alegria de viver. A uns, cura-os da tendência para o egoísmo que todos temos dentro. A outros, pelo contrário, enche-os de cepticismo e de amargura.
É impossível viver nesta Terra sem algum tipo de sofrimento. Por isso, podemos e devemos ser felizes apesar dessa presença constante que nos acompanhará durante todo o nosso caminho — de um modo especial nos últimos momentos. Para que isso seja possível, um cristão sabe que deve olhar para Jesus pregado na Cruz. À primeira vista — disse Bento XVI aos jovens — a Cruz parece ser a negação da vida. Na realidade, é exactamente o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem. Ela é a expressão máxima do Seu Amor por nós. Ela é a única nascente da qual brota a vida eterna.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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