A basílica de Santa Sabedoria (em
grego Hagia Sophia) foi construída em madeira no ano 360, pouco depois de o
Imperador Constantino ter encerrado três séculos de perseguição à Igreja. Desde
então, o edifício sobreviveu, foi restaurado, saqueado, recuperado de novo,
sucessivas vezes, até aos nossos dias. A construção actual, já em tijolo, remonta
ao século V, revestida de mosaicos muito valiosos pelo desenho, pelas cores e pelos
materiais usados, incluindo o ouro. A cúpula impressiona pelo arrojo do
projecto e os mosaicos emprestam-lhe um brilho e uma festa notáveis.
Constantinopla (do nome do
Imperador Constantino) foi durante mil anos a capital do império bizantino e
esta basílica o ponto focal da sua vida espiritual e intelectual.
Até que, em 1453, o sultão otomano
Fatih Mehmet II conquistou Constantinopla, mudou-lhe o nome para Istambul, e
adaptou a basílica a mesquita. Para isso, seria preciso remover os mosaicos, repletos
de cenas da Bíblia e de referências cristãs, no entanto, Mehmet II só teve
coragem de os tapar com estuque. Assim se manteve Santa Sofia como mesquita até
ao século XX, enquanto durou o império otomano.
O poder otomano atingiu o apogeu
nos séculos XVI – XVII, quando se propôs invadir a Europa cristã. A situação
esteve várias vezes por um fio. Um dos momentos-chave foi a batalha naval de
Lepanto, ao largo da costa grega (1571). O Papa Pio V convocou a cristandade para
rezar, quis que os militares cristãos levassem consigo o Terço e, no momento do
confronto, ele próprio rezava com os peregrinos, em Roma. No final da oração,
anunciou-lhes que, graças à intercessão de Maria, a Europa acabava de ser salva
e, passados poucos dias, chegou a armada a confirmar a notícia. Foi por causa da
protecção de Nossa Senhora em Lepanto que se acrescentou à ladainha do Terço a
invocação «Auxílio dos cristãos, rogai por nós».
Depois de Lepanto, ainda houve
algumas tentativas otomanas de assaltar a Europa mas o império entrou em
declínio e foi perdendo, pouco a pouco, os vastos territórios que dominava. Em
1830, os gregos recuperaram a independência; em 1878, foi a vez da Roménia, da
Sérvia, da Bulgária. Durante a guerra de 1912-13, o império otomano perdeu o
que lhe restava de territórios europeus. Em 1915, o regime ainda teve força para
realizar o genocídio arménio (em que morreram milhões de arménios) mas a corte
dos sultões já tinha os dias contados. Em 1922, Mustafa Kemal tomou o poder e
conservou-o até à sua morte. Esta ditadura introduziu tantas reformas que Kemal
é conhecido como o Atatürk (pai dos turcos, fundador da Turquia). Uma das suas
decisões radicais foi retirar o estuque das paredes de Santa Sofia e restituir
ao mundo os mosaicos tapados durante seis séculos. Obviamente, uma vez removido
o estuque, o edifício já não podia ser usado como mesquita, mas como o Atatürk também
não o queria devolver aos cristãos, Santa Sofia passou a ser simplesmente um
museu.
A vida dá muitas voltas e Recep
Tayyip Erdoğan, actual sucessor do Atatürk, anunciou que o museu voltaria a ser
uma mesquita. A UNESCO protestou energicamente e chamou o Embaixador da Turquia
para lhe lembrar que a decisão violava os acordos internacionais. Um pouco por
todo o mundo, as principais autoridades fizeram ouvir a sua voz, aparentemente
sem êxito, para além de chamarem a atenção para a perseguição aos cristãos na
Turquia: apesar de serem uma pequena minoria, todos os anos há cristãos mortos
por forças do Governo ou por milícias árabes.
Dos EUA chega a notícia de que a
nova moda é destruir imagens católicas. Deitaram abaixo a estátua de S.
Junípero em S. Francisco, destruíram um monumento às crianças não nascidas na
igreja de Nossa Senhora da Assunção em Nova York, partiram à martelada o
crucifixo da paróquia de Santa Bernardette no Illinois, pintaram e sujaram uma
estátua de Jesus em Monstana, decapitaram uma imagem de Nossa Senhora na
Indiana, etc. Em Los Angeles, pegaram fogo a uma das igrejas norte-americanas
mais antigas (século XVIII). Etc.
A Conferência Episcopal dos EUA
tentou decifrar estes atentados: «trata-se de indivíduos com problemas, que
querem chamar a atenção porque precisam de ajuda? De
qualquer maneira, os ataques são sintomas de uma sociedade que precisa de
cura».
Cá em Portugal também. Uns
precisam de cura, nós precisamos de paciência.
José Maria C.S. André
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