Flagelação de Jesus
Amarrado a uma coluna, o meu Senhor está para ali, estremecendo a cada golpe dos algozes que se revezam.
Cada vergastada é um suplício. Os pedaços de osso que pendem das extremidades das finas tiras de couro enegrecidas de sangue antigo, causam dores indescritíveis, vergões e ferimentos profundos, arrancam a pele e pedaços de carne e rasgam os músculos. A experiência dos algozes atinge os locais mais sensíveis e, talvez mais acicatados pelo silêncio deste Homem a quem o suplício não arranca um queixume, redobram de energia e os golpes caiem, rápidos, fortíssimos, procurando com maquiavélica destreza provocar o maior sofrimento possível.
Mas é em vão. Apenas um som abafado sai da garganta ressequida de Jesus. É um estertor involuntário que a violência do castigo provoca.
Eu, escondido num vão, não intervenho. Estou atónito e assustado com o que vejo. É uma cena de uma brutal ferocidade inaudita.
Não me julgo capaz de Te provocar tal suplício... quem? Eu? Oh Senhor! Eu não..., eu amo-Te com todas as minhas forças, nunca seria capaz de tal coisa.
E, no entanto, as minhas frequentes faltas e pecados o que são, senão chicotadas na Tua carne santa.
Acabou o terrível suplício. Solto da coluna imunda à qual Te ataram caies por terra, desfalecido, meio morto. Eu, caio também de joelhos e peço-Te perdão.
Perdão pela minha cobardia, pela minha pouca de fé, pela minha tibieza, pela minha falta de carácter.
E tu, minha Mãe, que no exterior, com o coração angustiado, aguardas o fim do suplício que infligem ao teu Filho, tu Senhora de Dores, acolhe-me junto de ti e sossega o meu espírito.
Diz-me que jamais, jamais consentirás que eu me converta em carrasco, algoz, do teu Divino Filho.
Afiança-me que a tua confiança de filha de Deus Pai, ajudará a minha pouca fé.
Persuade-me que a tua certeza de Mãe de Deus Filho aumentará a minha esperança.
Garante-me que o teu amor de Esposa do Espírito Santo, suprirá a minha falta de caridade.
Incute no meu espírito o desejo de estar com Jesus, nesta hora solene, em que o rei do Reis, o Senhor dos Senhores, está amarrado como um malfeitor, recebendo um castigo duríssimo que não mereceu.
A interpor-me entre os carrascos e o teu Filho, aparando os golpes.
A limpar os vergões e as feridas da Sua carne.
Por um bálsamo, lavar o sangue, limpar as feridas.
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