«Não é nada fácil, hoje em dia, encontrar alguém que saiba escutar. Muitos ouvem, mas são poucos os que escutam. Já o diferencia o dicionário da nossa amada língua portuguesa: “ouvir” é ter o sentido da audição; “escutar” é ouvir prestando atenção. Prestar atenção não é um detalhe de pouca importância ― faz toda a diferença! Sobretudo, quando experimentamos a necessidade vital de que alguém nos compreenda.
«Nesse caso, agradecemos que a pessoa com quem falamos não somente nos ouça, mas pedimos-lhe encarecidamente que também nos escute. Que procure sintonizar com aquilo que lhe estamos a tentar dizer. Só assim, sentimos de verdade paz na alma e alívio no coração».
Sábias palavras! De se lhe tirar o chapéu, sim senhor! É verdade: actualmente são poucos os que realmente escutam os outros com interesse. E é certo e sabido que, se as pessoas não se escutam umas às outras, a sociedade deixa de existir.
E se a “sociedade” é a lá de casa, deixa de haver família. No lugar dos familiares que convivem no mesmo lar, surge um conjunto de indivíduos que, por pura coincidência, vivem na mesma casa. E, evidentemente, não desejam ser aborrecidos com problemas que não são os seus. “Está alguém metido numa alhada? Que se desenvencilhe sozinho! O que é que eu tenho a ver com isso?”.
É uma descrição ― talvez um pouco exagerada ― daquilo que conhecemos como isolamento. E o isolamento, por muito atraente e simplificador que possa parecer à primeira vista, acaba por gerar apatia. E a apatia, se não for contrariada, mais cedo ou mais tarde leva ao desespero, por muito dissimulado que ele esteja.
É relativamente fácil constatar que, na vida de um casal, quando há problemas no relacionamento mútuo, geralmente esses problemas começaram quando se deixou de escutar o outro. Escutar às vezes pode ser sinónimo de sofrer, como diz A. Polaino. E o sofrimento leva à infelicidade ― quando não se aceita como uma demonstração de amor. Sem sentido cristão, o sofrimento no convívio com os familiares pesa muito, fecha o horizonte de felicidade e torna-se uma tragédia. Se não for “curado” a tempo, pode gerar cinismo com o passar dos anos.
Escutar é, naturalmente, uma demonstração de amor. Uma demonstração de genuíno interesse pela pessoa amada. Deixar de escutar é, simplificando, começar a deixar de amar. Porque ainda que possa parecer exagerado, quando marido e mulher não se escutam, estão a começar a perder o respeito um pelo outro. E sem respeito, não há amor ― excepto nas sociedades da caverna onde a marretada era uma demonstração de carinho.
Aprender a escutar com interesse. Escutar é, entre outras coisas, saber colocarmo-nos nas circunstâncias dos outros. Assim, veremos os acontecimentos com serenidade e compreensão. E mais facilmente desculparemos, quando isso for necessário. Mas sobretudo, como dizia S. Josemaria, encheremos este nosso mundo de caridade, que é aquilo que ele tem mais necessidade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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