Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 26 de abril de 2020

REFLEXÕES SOBRE A PESTE DE 2020 (VII) Luís Filipe Thomaz

Na sua fragilidade humana nenhum de nós pode saber quanto tempo durará a situação presente, nem que consequências terá, a curto, médio ou longo prazo. Tampouco sabemos quantos e quais de nós serão atingidos. Pelo menos as consequências económicas, sofrê-las-emos todos; e ainda que não sejamos diretamente tocados, teremos o nosso quinhão de dor e sofrimento — quanto mais não seja ao ver os outros sofrer, já que quem ama padece, porque se compadece.
              Em 261 A. C. o rei indiano Axoca, o primeiro a unificar a Índia, apoderou-se do reino de Kalinga, na costa oriental da península. Foi uma campanha dura, em que pereceram milhares de pessoas, espetáculo de tal modo terrível que o rei se converteu ao budismo, religião pacifista, e, convicto de que "a primeira de todas as vitórias é a vitória da Lei", desistiu de proceder a mais conquistas. E em vários lugares dos seus reinos mandou gravar uma inscrição em que, além de recomendar aos seus sucessores que se abstivessem de novas guerras, deixava exarado:

Oito anos após a sua sagração o rei amigo dos deuses e de olhar amigo conquistou o Kalinga. Cento e cinquenta mil pessoas foram deportadas; cem mil foram mortas; e muitos mais ainda acabaram por perecer. Desde então, ardentes são junto ao rei amigo dos deuses, o exercício da Lei, o amor da Lei e a pregação da Lei (…). E mesmo os felizes que puderam conservar as suas afeições, uma vez que a infelicidade tocou os seus amigos, familiares, companheiros ou parentes, foi também para eles um violento golpe. Esta participação entre todos os homens é um pensamento que aflige o amigo dos deuses…

              Sentimentos idênticos, ou melhores ainda, devemos acalentar nós, os que recebemos a luz do Evangelho. Por isso, sejamos atingidos ou escapemos, na nossa pessoa ou na do outros, todos sofreremos.
              Quer nos seus desígnios inefáveis Deus tenha decidido que pereçamos ou pereçam os nossos, quer não, cantemos pois como cantou Habacuc, ao entrever que o triunfo de Deus envolve dor para as criaturas; mas que acima de todo o sofrimento paira a glória do Senhor:

                  Senhor, ouvi a Tua fama e enchi-me de temor,
contemplei as Tuas obras, fui tomado de estupor. (…)
                 
                  O Senhor virá de Teman,
e o Santo do monte de Faran,
de um monte sombrio e frondoso.
                  A sua majestade cobre os céus,
de seu louvor está cheia a terra. (…)

                  À Sua frente caminha a peste,
jorra a febre de Seus pés. (…)

                  Ouvi e estremeceram-me as entranhas
meus lábios tremeram com a notícia;
a cárie penetrou-me os ossos
e vacilaram os meus passos. (…)

Contudo conclui:

                  Pode não dar rebentos a figueira;
pode faltar na vinha o cacho,
ser um engano a frutificação da oliveira,
e não darem mais os campos que comer;
podem desaparecer as ovelhas do redil
e dos estábulos os bois.
                  Mas eu exultarei no meu Senhor
rejubilarei em Deus meu Salvador.
                  O Senhor meu Deus é a minha força,
Ele dará a meus pés a rapidez da corça;
far-me-á subir às alturas, vencedor,
cantando-lhe salmos ao som da minha lira.
                  (Hab 3, 2, 19)

              Se tivermos de morrer, morramos ao menos como mártires, na acepção etimológica do termo, ou seja, como testemunhas: testemunhando que, como gostam de repetir os muçulmanos, Allahu akbar, "Deus é o maior!".

Sem comentários: