Seguindo a orientação que tracei para mim nestes meses marianos, proponho considerar agora a importância dos sacramentos no caminhar das famílias cristãs, e que brote a nossa gratidão diária à Trindade Beatíssima por estes mistérios salvíficos, que nos tornam possível a participação nas riquezas divinas.
Todos podemos e devemos ajudar na tarefa de evangelização da família, do modo mais apropriado às nossas circunstâncias individuais. Foge-me o pensamento para os que trabalham em escolas, públicas ou particulares, em contacto direto com pais e mães, com tantas e tantos jovens que frequentam essas aulas, com professores com quem compartilham a responsabilidade educativa. Recordo a todos que a vossa tarefa, de primordial importância, não se deve limitar a transmitir uns conhecimentos que preparem os alunos para o futuro; ocupai-vos – sei que o fazeis – com a formação integral das crianças e dos adolescentes nos diferentes aspetos – humanos, espirituais, religiosos –, tão próprios da educação cristã.
Em primeiro lugar, é primordial o papel dos pais e das mães e, de certo modo, também dos restantes elementos da família: irmãos, avós, etc. Os pais, ou quem fizer as suas vezes, são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Ao falar dos diversos membros da família, o Romano Pontífice disse: Vós, crianças e jovens, sois os frutos da árvore que é a família: sois frutos bons quando a árvore tem boas raízes – que são os avós – e um bom tronco – que são os pais. Jesus dizia que cada árvore boa dá bons frutos; toda a árvore má dá maus frutos (cfr. Mt 7, 17). A grande família humana é como uma floresta, onde as árvores boas trazem solidariedade, comunhão, confiança, apoio, segurança, sobriedade feliz, amizade. A presença das famílias numerosas é uma esperança para a sociedade. E por isso é muito importante a presença dos avós: uma presença preciosa quer pela ajuda prática quer sobretudo pela contribuição educativa. Os avós conservam em si os valores de um povo, de uma família, e ajudam os pais a transmiti-los aos filhos [1]. Insisto em que os casais a quem Deus não concede descendência também podem desempenhar um papel importante, enriquecedor, na formação cristã de outras famílias.
Quanto bem fazem os pais que tomam a sério esta missão! Por isso, a primeira necessidade concretiza-se na presença habitual do casal e dos filhos no lar, com a persuasão de que essa casa pode e deve ser "sala de espera" do Céu e escola de caridade, porque as alegrias e as penas de um são penas e alegrias dos outros membros da família.
S. Josemaria transmitiu-nos esta doutrina tão clara, também fruto da sua experiência pessoal. Numa ocasião, recordando como o Senhor o foi preparando para a sua missão de fundar a Obra, comentava: fez-me nascer num lar cristão, como costumam ser os do meu país, de pais exemplares que praticavam e viviam a sua fé, dando-me uma liberdade muito grande desde pequeno, vigiando-me ao mesmo tempo com atenção. Procuravam dar-me uma formação cristã, e ali a adquiri mais do que no colégio, embora desde os três anos me tenham levado a um colégio de religiosas, e desde os sete a um de religiosos [2].
Em casa dos Avós, aprendeu a comportar-se de um modo autenticamente cristão, adaptado em cada momento às circunstâncias da sua idade; e agradecia-o profundamente a Deus no fim dos seus dias, quando vinham à sua memória acontecimentos, grandes ou pequenos, daqueles primeiros tempos da infância e da juventude. Da sua própria situação, e da sua ampla experiência sacerdotal, provinham os conselhos que dava a pais e mães de família.
Interessa-me destacar concretamente a sua insistência em sublinhar a importância do bom exemplo. Desde o primeiro momento, comentava, os filhos são testemunhas inexoráveis da vida dos pais. Não dais conta, mas julgam tudo, e às vezes, julgam-vos mal. De modo que as coisas que acontecem em casa influenciam para bem ou para mal as vossas crianças. Procurai dar-lhes bom exemplo, procurai não esconder a vossa piedade, procurar ser limpos no vosso comportamento: assim aprenderão, e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice. Para eles, sois como um livro aberto [3].
É muito importante que os pais – o pai também, não só a mãe – ensinem aos filhos as primeiras orações. Não os obrigueis a grandes rezas: pouquinhas, mas todos os dias, aconselhava S. Josemaria. Quando são muito pequeninos, pegas na mão de cada um e és tu que os ensinas a benzer-se, com a mãozinha deles. Isso nunca se esquece. A vossa delicadeza e a vossa piedade, com a piedade dos vossos maridos, dos nossos pais, permanece no fundo da alma [4]. Com muita graça, acrescentava noutras ocasiões: que os vossos filhos não se deitem como cachorrinhos. Gosto de o dizer assim, porque fica muito claro e consigo fazer-me entender. Os cachorrinhos aninham-se num canto, e pronto. Os vossos filhos, não: têm que fazer o sinal da cruz antes de ir para a cama, e dizer umas palavras à Santíssima Virgem e a Deus Nosso Senhor, mesmo quando a alma não esteja totalmente limpa [5].
Reconhecia com santo orgulho que nunca deixou, nem de manhã, nem à noite, as orações vocais aprendidas na infância: poucas, breves, piedosas. De maneira que lembrar-me dos meus pais leva-me a Deus, e faz-me sentir muito unido, ao mesmo tempo que à minha própria família, àquela outra família que havia em Nazaré – Jesus, Maria e José –, e a essa família do Céu, o Deus único que é trino em pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo[6].
[1]. Papa Francisco, Discurso à Associação nacional de famílias numerosas de Itália, 28-XII-2014.
[2]. S. Josemaria, Notas de uma meditação, 14-II-1964.
[3]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 12-XI-1972.
[4]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 4-VI-1974.
[5]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 18-X-1972.
[6]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 28-X-1972.
(D. Javier Echevarría na carta do mês de abril de 2015)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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