Interessa-me e muito, minhas filhas e filhos, que apliquemos estas considerações ao cuidado dos doentes: uma obra de misericórdia que Jesus Cristo premeia de modo especial. Rezemos também diariamente pelos que sofrem perseguição por causa das suas convicções religiosas. Ninguém nos é alheio! Roguemos ao Senhor que os assista com a Sua graça e lhes dê forças. E como a caridade é ordenada, ela deve chegar em primeiro lugar a quem está mais perto – membros da nossa família sobrenatural ou humana, amigos e vizinhos, colegas de trabalho –, a todos aqueles a quem nos unem laços especiais de fraternidade, pelas variadas situações em que nos encontramos.
Muito claras são as sugestões que transcrevo: consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simulta¬neamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e peque¬ninos? Ou refugiamo-nos num amor universal, pronto a comprometer-se lá longe, no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cfr. Lc 16, 19 31)? [5]
Aproveito estas linhas para agradecer novamente às minhas filhas e filhos, e a tantas pessoas que cuidam dos doentes e dos idosos, a sua generosa dedicação a esse trabalho: como Deus lhes sorri! Bem sei que, às vezes, surge nessa tarefa o cansaço. Mas voltemos então o olhar para uma realidade muito clara à luz da fé: atender quem não se pode valer por si mesmo, tanto na própria casa como noutros sítios, introduz-nos diretamente no Coração misericordioso do Senhor. Esmeremo-nos em dedicar-lhes os nossos melhores serviços, sem nunca regatear o sacrifício pessoal. Leio com frequência registos de como S. Josemaria visitava, alegre, os doentes – era uma necessidade, também para fazer o Opus Dei –, saía para estar com elas ou com eles. E daqueles momentos tirava forças para cumprir o que Deus lhe pedia.
Contamos na Obra com uma ampla experiência destas obras de misericórdia: não foi em vão, repito, que o Opus Dei nasceu e se consolidou entre os pobres e os doentes. É muito significativo para o nosso caminhar que no dia 19 de março de 1975, poucos meses antes de ir para o Céu – passaram quarenta anos – o nosso Padre tenha recordado com clareza aqueles começos, durante uma tertúlia familiar. Convido-vos a deter-nos novamente nas suas palavras.
Fui buscar fortaleza nos bairros mais pobres de Madrid. Horas e horas por todo o lado, todos os dias, a pé, de um lugar a outro, entre pobres envergonhados e pobres miseráveis, que não tinham nada de nada. Entre crianças de ranho na boca, sujos, mas crianças, que quer dizer almas agradáveis a Deus (…). E que salutar, que alegria! Foram muitas horas naquele trabalho, mas tenho pena que não tenham sido mais. E nos hospitais, e nas casas onde havia doentes, se se podem chamar casa àqueles casebres… Eram gente abandonada e doente, alguns com uma doença que na altura era incurável, a tuberculose (…).
Foram anos intensos, em que o Opus Dei crescia para dentro, sem darmos conta. Mas quis dizer-vos – algum dia vo-lo contarão com mais detalhe, com documentos e papéis – que a fortaleza da Obra foram os doentes dos hospitais de Madrid: os mais miseráveis, os que viviam nas suas casas, perdida até a última esperança humana, os mais ignorantes daqueles bairros mais periféricos [6].
Às doentes e aos doentes, sugiro que sejam dóceis e se deixem cuidar, que agradeçam o carinho humano e cristão que o próprio Jesus Cristo lhes dá através dos que se ocupam delas e deles. Quantas pessoas, também entre as que não possuem o tesouro da fé, ficam tocadas perante as manifestações de verdadeiro amor cristão e humano, e acabam por descobrir o rosto de Jesus nos doentes ou nas pessoas que por eles se gastam!
[5]. Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma de 2015, 4-X-2014.
[6]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 19-III-1975 ("Por las sendas de la fé", ed. Cristiandad, 2013, pp. 146-147).
(D. Javier Echevarría na carta do mês de março de 2015)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
Muito claras são as sugestões que transcrevo: consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simulta¬neamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e peque¬ninos? Ou refugiamo-nos num amor universal, pronto a comprometer-se lá longe, no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cfr. Lc 16, 19 31)? [5]
Aproveito estas linhas para agradecer novamente às minhas filhas e filhos, e a tantas pessoas que cuidam dos doentes e dos idosos, a sua generosa dedicação a esse trabalho: como Deus lhes sorri! Bem sei que, às vezes, surge nessa tarefa o cansaço. Mas voltemos então o olhar para uma realidade muito clara à luz da fé: atender quem não se pode valer por si mesmo, tanto na própria casa como noutros sítios, introduz-nos diretamente no Coração misericordioso do Senhor. Esmeremo-nos em dedicar-lhes os nossos melhores serviços, sem nunca regatear o sacrifício pessoal. Leio com frequência registos de como S. Josemaria visitava, alegre, os doentes – era uma necessidade, também para fazer o Opus Dei –, saía para estar com elas ou com eles. E daqueles momentos tirava forças para cumprir o que Deus lhe pedia.
Contamos na Obra com uma ampla experiência destas obras de misericórdia: não foi em vão, repito, que o Opus Dei nasceu e se consolidou entre os pobres e os doentes. É muito significativo para o nosso caminhar que no dia 19 de março de 1975, poucos meses antes de ir para o Céu – passaram quarenta anos – o nosso Padre tenha recordado com clareza aqueles começos, durante uma tertúlia familiar. Convido-vos a deter-nos novamente nas suas palavras.
Fui buscar fortaleza nos bairros mais pobres de Madrid. Horas e horas por todo o lado, todos os dias, a pé, de um lugar a outro, entre pobres envergonhados e pobres miseráveis, que não tinham nada de nada. Entre crianças de ranho na boca, sujos, mas crianças, que quer dizer almas agradáveis a Deus (…). E que salutar, que alegria! Foram muitas horas naquele trabalho, mas tenho pena que não tenham sido mais. E nos hospitais, e nas casas onde havia doentes, se se podem chamar casa àqueles casebres… Eram gente abandonada e doente, alguns com uma doença que na altura era incurável, a tuberculose (…).
Foram anos intensos, em que o Opus Dei crescia para dentro, sem darmos conta. Mas quis dizer-vos – algum dia vo-lo contarão com mais detalhe, com documentos e papéis – que a fortaleza da Obra foram os doentes dos hospitais de Madrid: os mais miseráveis, os que viviam nas suas casas, perdida até a última esperança humana, os mais ignorantes daqueles bairros mais periféricos [6].
Às doentes e aos doentes, sugiro que sejam dóceis e se deixem cuidar, que agradeçam o carinho humano e cristão que o próprio Jesus Cristo lhes dá através dos que se ocupam delas e deles. Quantas pessoas, também entre as que não possuem o tesouro da fé, ficam tocadas perante as manifestações de verdadeiro amor cristão e humano, e acabam por descobrir o rosto de Jesus nos doentes ou nas pessoas que por eles se gastam!
[5]. Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma de 2015, 4-X-2014.
[6]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 19-III-1975 ("Por las sendas de la fé", ed. Cristiandad, 2013, pp. 146-147).
(D. Javier Echevarría na carta do mês de março de 2015)
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
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