O caso de
Tim Farron é revelador da intolerância dos autoproclamados donos da
tolerância - um fanatismo de esquerda que está a provocar duas coisas: a expulsão
do espaço público de vozes consideradas “conservadoras”,
ou a divisão do espaço público em duas esferas que não se tocam, qual jogo de
surdos. Tim Farron é cristão e era líder dos “liberais” (Lib-Dem). Devido às
suas posições sobre o aborto e casamento gay, foi literalmente expulso do
partido. O caso é assustador pelo seguinte: Farron considera que o “aborto é errado”
(abortion is wrong), mas não desenvolveu grande combate nesta área; o seu
discurso político não estava aí centrado; ele é, digamos, um cristão “privado” que
aceitou a derrota legal e política na questão do aborto. Isto porém não é suficiente
para os ayatollahs progressistas que se sentam nos tronos de faculdades e redações.
A intifada
progressista em curso é tudo menos magnânima na vitória, deseja a humilhação do
outro lado, dos cristãos. Os donos do ar do tempo não ficam satisfeitos com vitórias
legais. Exigem mais. Como dizia há dias Sohrab Ahmari no “Wall Street Journal”,
esta esquerda exige a própria consciência do cristão ou do “conservador”,
chamem-lhe o que quiserem. Neste esquema mental, Farron não tinha direito a
considerar o aborto um pecado; não chegava a sua resignação, ele tinha de
louvar o direito ao aborto, ele tinha de gostar da “IVG”. Estamos a chegar a um
ponto em que nem sequer se pode ter uma consciência íntima,
privada, separada das leis do tempo. A esquerda fraturante não quer apenas as
leis, quer colonizar a própria consciência de quem não pensa desta forma. Ou
seja, é cada vez mais claro que esta esquerda tem o germe autoritário: se o
aborto é lei, então as pessoas que não concordam com essa lei devem ser banidas,
ostracizadas, retiradas do espaço público (jornais, partidos, universidades). Assim
vai a perseguição que se esconde no biombo da “tolerância”.
Henrique
Raposo in Expresso diário de 05.07.2017
(seleção de imagem 'Spe Deus')
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