Parece uma advertência contra as seitas e heresias.
É uma interpretação possível. Mas também é uma advertência contra qualquer regra fácil. Jesus nos previne contra os "curandeiros do espírito". Diz que a nossa norma deve ser perguntarmo-nos: "Como vive essa pessoa? Quem é na realidade? Que frutos produzem ele e o seu círculo? Analise isso e verá a que conduz".
Essa norma prática, ditada por Cristo à vista das circunstâncias do momento em que viveu, projecta-se sobre a História. Pensemos nos pregadores da salvação do século passado, quer se trate de Hitler ou dos pregadores marxistas; todos vieram e disseram:
"Trazemo-vos a justiça". No princípio, pareciam mansas ovelhas, mas acabaram sendo grandes destruidores. Mas [a norma prática dos frutos] também diz respeito aos numerosos pequenos pregadores que nos dizem: "Eu tenho a chave! Age assim e em pouco tempo conseguirás a felicidade, a riqueza, o êxito".
William Shakespeare, evidentemente um católico, viveu com intensidade a roda da existência. Como bom pedagogo, no fim ofereceu uma recomendação, algo assim como a essência do seu conhecimento mundano: "Compra tempo divino, vende horas do triste tempo terrenal". São palavras sábias, como as que se esperam de um grande homem. O tempo mais bem aproveitado é aquele que se transforma em algo duradouro: é o tempo que recebemos de Deus e a Ele devolvemos. O tempo que é pura transição desmorona e se transforma em mera caducidade.
(Cardeal Joseph Ratzinger em ‘La fe, de tejas abajo’)
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