São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo
Sermão «Que rico pode ser salvo?», § 31
«Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser Meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa» (Mt 10,42). [...] Este é o único salário que não perderá o seu valor: «Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.» As riquezas de que dispomos não devem servir apenas para nós; com bens injustos pode fazer-se uma obra justa e salutar, e aliviar um daqueles que o Pai destinou à Sua morada eterna. [...] Que admirável é esta palavra de Paulo: «Deus ama quem dá com alegria» (2Co 9,7), aquele que dá esmola do coração, que semeia sem medida para colher de forma igualmente abundante, que partilha sem murmurar, sem hesitação nem reticência. [...] E ainda é maior esta palavra que o Senhor diz noutro lado: «Dá a todo aquele que te pede» (Lc 6,30). [...]
Reflecte então na magnífica recompensa que te é prometida pela tua generosidade: a morada eterna. Que bom negócio! Que negócio extraordinário! Compramos a imortalidade com dinheiro; trocamos os bens perecíveis deste mundo por uma morada eterna no céu! Se vós, os ricos, tendes sabedoria, aplicai-vos a este comércio. [...] Por que vos deixais fascinar por diamantes e esmeraldas, por casas que o fogo devora, que o tempo faz desmoronar, que um tremor de terra derruba? Aspirai apenas a viver nos céus e a reinar com Deus. Um homem, um pobre dar-vos-á esse reino. [...]
De resto o Senhor não disse: «Dai, sede generosos, socorrei os vossos irmãos», mas «fazei amigos». A amizade não nasce duma única doação, mas duma longa familiaridade. Nem a fé nem a caridade nem a paciência, são obra de um dia: «Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo» (Mt 10,22).
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