Quando Cristo inicia a sua pregação na Terra, não oferece um
programa político, mas diz: fazei penitência, porque está perto o reino dos
Céus. Encarrega os seus discípulos de anunciar esta boa nova e ensina a
pedir, na oração, a chegada do reino, isto é o reino dos Céus e a sua justiça,
uma vida santa, aquilo que temos de procurar em primeiro lugar, a única coisa
verdadeiramente necessária.
A salvação pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo é um convite
dirigido a todos: o reino dos céus é semelhante a um rei, que fez as núpcias
de seu filho. E mandou os seus servos chamar convidados para as núpcias. Por
isso, o Senhor revela que o reino dos Céus está no meio de vós.
Ninguém se encontra excluído da salvação se adere livremente às
exigências amorosas de Cristo: nascer de novo fazer-se como menino, na
simplicidade de espírito; afastar o coração de tudo aquilo que aparte de Deus.
Jesus quer factos; não só palavras; e um esforço, denodado, porque apenas
aqueles que lutam serão merecedores da herança eterna.
A perfeição do reino o juízo definitivo de salvação ou de
condenação não se dará na Terra. Agora o reino é como uma semente, como o
crescimento do grão de mostarda. O seu fim será como a rede que apanhava toda a
espécie de peixes, donde depois de trazida para a areia serão extraídos,
para destinos diferentes, os que praticaram a justiça e os que fizeram a
iniquidade. Mas, enquanto aqui vivemos, o reino assemelha-se à levedura que uma
mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até que toda a massa ficou
fermentada.
Quem compreender o reino que Cristo propõe, reconhece que vale a
pena jogar tudo para o conseguir: é a pérola que o mercador adquire à custa de
vender tudo o que possui, é o tesoiro encontrado no campo. O reino dos céus é
uma conquista difícil e ninguém tem a certeza de o alcançar, embora o clamor
humilde do homem arrependido consiga que se abram as suas portas de par em par.
Um dos ladrões que foram crucificados com Jesus suplica-Lhe: Senhor,
lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E Jesus disse-lhe: Em verdade
te digo: Hoje estarás comigo no paraíso. (Cristo que passa, 180)
O reino dos céus alcança-se com
violência, e os violentos arrebatam-no. Essa força não se
manifesta na violência contra os outros; é fortaleza para combater as próprias
debilidades e misérias, valentia para não mascarar as nossas infidelidades,
audácia para confessar a fé, mesmo quando o ambiente é contrário. (Cristo que passa, 82)
No meio das ocupações de cada jornada, no momento de vencer a
tendência para o egoísmo, ao sentir a alegria da amizade com os outros homens,
em todos esses instantes o cristão deve reencontrar Deus. Por Cristo e no
Espírito Santo, o cristão tem acesso à intimidade de Deus Pai, e percorre o seu
caminho buscando esse reino, que não é deste mundo, mas que neste mundo se
inicia e prepara. (Cristo que passa, 116)
Enquanto esperamos o regresso do Senhor que voltará a tomar
posse plena do seu Reino, não podemos estar de braços cruzados. A extensão do
Reino de Deus não é só tarefa oficial dos membros da Igreja que representam
Cristo, por d'Ele terem recebido os poderes sagrados. Vos autem estis corpus
Christi, vós também sois Corpo de Cristo, ensina-nos o Apóstolo, com o
mandato concreto de negociar até ao fim. (Cristo que passa, 121)
Desde a nossa primeira decisão consciente de viver integralmente
a doutrina de Cristo, é certo que avançámos muito pelo caminho da fidelidade à
sua Palavra. Mas não é verdade que restam ainda tantas coisas por fazer? Não é
verdade que resta, sobretudo, tanta soberba? É precisa, sem dúvida, uma outra
mudança, uma lealdade maior, uma humildade mais profunda, de modo, que,
diminuindo o nosso egoísmo, cresça em nós Cristo, pois illum oportet
crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e que eu diminua.
Não é possível deixar-se ficar imóvel. É necessário avançar para
a meta que S. Paulo apontava: não sou eu quem vive; é Cristo que vive em
mim. A ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a
santidade. Mas não há outro caminho, se se deseja ser coerente com a vida
divina que, pelo Baptismo, Deus fez nascer nas nossas almas. O avanço é o
progresso na santidade; o retrocesso é negar-se ao desenvolvimento normal da
vida cristã. Porque o fogo do amor de Deus precisa de ser alimentado, de
aumentar todos os dias arreigando-se na alma; e o fogo mantém-se vivo queimando
novas coisas. Por isso, se não aumenta, está a caminho de se extinguir.
Recordai as palavras de Santo Agostinho: Se disseres basta,
estás perdido. Procura sempre mais, caminha sempre, progride sempre. Não
permaneças no mesmo sítio, não retrocedas, não te desvies.
A Quaresma coloca-nos agora perante estas perguntas
fundamentais: Avanço na minha fidelidade a Cristo? Em desejos de santidade? Em
generosidade apostólica na minha vida diária, no meu trabalho quotidiano entre
os meus companheiros de profissão? (Cristo
que passa, 58)
São Josemaría Escrivá
Sem comentários:
Enviar um comentário