Nos meses que faltam para o dia 27 de setembro, data da beatificação de D. Álvaro, gosto de pensar na figura do meu predecessor, tão leal a Deus, que seguiu com fidelidade o exemplo e os ensinamentos de S. Josemaria, também no seu interesse por alcançar a felicidade do Céu. Na Terra, era uma pessoa feliz e otimista, porque amava esta virtude sobrenatural da esperança, que implorava a Deus em cada dia. Com palavras que também eu ouvi muitas vezes ao nosso Fundador, D. Álvaro usava uma jaculatória muito adequada para pedir essa qualidade, sobretudo quando se notam com mais força a própria debilidade ou os limites do nosso eu. Repetia: Senhor, não Te fies em mim, eu, sim, é que me fio em Ti. Recomendava-a também a quem o ouvia, particularmente se alguém se considerava incapaz de corresponder à graça pelo peso das suas faltas e defeitos. Animava todas e todos a pôr a sua confiança em Deus, empregando ao mesmo tempo os meios humanos ao seu alcance.
Com a certeza de que o Senhor está sempre atento às nossas necessidades, temos de ouvir aquela exortação do Fundador do Opus Dei: É preciso mexer-se, meus filhos, é preciso fazer! Com fortaleza, com energia e com alegria de viver, porque o amor lança para longe o temor (cfr. 1 Jo 4, 18), com audácia, sem timidez (…). Tendes que fugir tanto da atitude do intrépido que acha tudo fácil, por achar que lhe sobram energias, como da vergonha do tímido, que vê tudo como dificuldade insuperável, por achar que não tem forças.
Não esqueçais que, se queremos, tudo se faz: Deus non dénegat grátiam, Deus não nega a Sua ajuda a quem faz o que pode [8].
Recordo um episódio da década de 1960, que mostra como D. Álvaro se servia de qualquer circunstância para fortalecer a sua esperança. Tinha pedido ao nosso Padre que lhe escrevesse umas palavras numa pequena fotografia e, depois da sua filial insistência, S. Josemaria escreveu o seguinte versículo de um salmo: hómines et iuménta salvábis, Dómine [9], Tu salvarás, Senhor, os homens e os jumentos. Talvez se tenha lembrado desta frase da Escritura porque a meditava com frequência, por se considerar um burrico diante de Deus. Não excluo que pensasse no próprio D. Álvaro, recordando o afeto e a fortaleza com que esse seu filho o ajudava a levar com alegria a divina carga do Opus Dei. Quando D. Álvaro ia anotar a data, leu o texto já escrito e, brincando com o seu apelido, comentou: isto abre um portillo [postigo] à esperança. S. Josemaria achou piada à frase e, com rapidez e bom humor, acrescentou esse comentário à fotografia.
[8]. S. Josemaria, Carta 6-V-1945, n. 44.
[9]. Sl 35 (36) 7.
(D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de junho de 2014)
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