Estes novos indignados, que parecem ser muito zelosos no que entendem ser a justiça social, esquecem o mandamento maior: a caridade. Em nome dos pobrezinhos, ofendem a honestidade, a rectidão e a competência de alguém que, entre outros méritos, tem o de ser um dos maiores empregadores do nosso país. É muito bonito dar esmolas aos pobrezinhos, sobretudo se as câmaras da televisão imortalizarem o caritativo gesto do gestor bonzinho, mas é muito mais importante dar trabalho a milhares de mulheres e de homens. Quem tenha feito mais e melhor, que atire a primeira pedra.
Quando Maria, a irmã de Lázaro, ungiu os pés do Senhor com um perfume “colossal”, houve quem se indignasse: Judas Iscariotes. O evangelista João explica a razão do seu protesto: “não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão”. E Camões, que conhecia bem a grandeza e a mesquinhez de que é capaz a alma lusitana, escreveu nos últimos versos de Os Lusíadas: “De sorte que Alexandro em vós se veja, sem à dita de Aquiles ter inveja”.
Gonçalo Portocarrero de Almada
jornal i - 14 junho 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário