Devido à ausência do meu obstetra por se encontrar no estrangeiro, e por razões de força maior, dirigi-me a um Hospital privado de Lisboa, (o mesmo Hospital onde, aliás, tive a minha bebé e fui tratada de um modo muito digno e cuidado), para ser observada nas Urgências.
Fui atendida por uma médica na casa dos 30, que eu não conhecia, e que começou a consulta com uma pergunta simples, “qual é a contracepção que usa?”
Julgo que a minha resposta “nenhuma” foi a pedra de toque para o que se passou a seguir. Perguntou-me porquê, já com um ar horrorizado, e retorqui-lhe que não tinha qualquer interesse em fazê-lo. A partir daí a conversa mudou, e tudo o que disse esta médica desde então foi sempre ou num tom irónico e irado, ou então num tom ameaçador.
Dado que tive uma cesariana há pouco tempo e é aconselhável um intervalo de um ano e meio em relação à próxima gravidez, questionou-me acerca do método que utilizava. Expliquei-lhe que era o método natural, aquele que implicava abstinência sexual durante o período fértil. Drama dos dramas.
Decidiu discorrer então sobre a ineficácia, segundo o que ela tinha aprendido, claro está, do meu método, referindo que esse era o método utilizado pelas nossas avós, que tinham 13, 14 , 15 filhos. (Duvido, com toda a reverência que tenho pelas nossas matriarcas, que soubessem o que era o muco cervical, e quem me dera a mim ter 15 filhos, mas com médicos assim é sempre a aprender).
Voltou a inquirir porque razão eu não tomava a pílula ou não usava o preservativo. Disse-lhe então que procurava que o meu casamento fosse construído sobre o amor, e que portanto estávamos abertos à vida.
“Os bebés são muito bem-vindos lá em casa. E, consecutivamente, nada faremos para destruir a Vida”. Destruir? Sim, disse-lhe eu, destruir a vida, porque a pílula pode ser abortiva. “O quê???” (Olhar ultra escandalizado). E eu ia explicar-lhe como, mas não me deixou. Disse, elevando a voz “aqui a médica sou eu, e portanto não vai discutir isso comigo e ponto final.”
Claro que no final, as insinuações de fanatismo religioso e o discurso políticamente correcto, mas de sinceridade duvidosa, de que o dever dos médicos é de informar, e que na opinião dela eu estava muito mal informada, mas que enquanto médica nada tinha a ver com as minhas “convicções religiosas ou éticas” imperou.
Entrei ansiosa porque estava doente e desconhecia as causas. Saí triste, desanimada e continuei doente. Sim, porque no meio desta batalha, teve 30 segundos para me dizer que não conseguia ver nada, melhor mesmo era que o meu médico me examinasse quando voltasse.
E contudo, o problema não foi isto ter acontecido comigo. O problema é que isto, e pior, acontece nos hospitais todos os dias, com raparigas que não têm a resiliência que adquiri em alguns anos de luta pela Cultura da Vida. Nem têm que ter. O que têm, e temos todos que ter, por direito, é médicos bem formados, científica e humanamente.
Médicos que saibam respeitar os doentes que assistem, sem se colocar numa posição de hegemonia que não tem qualquer fundamento. Entender que a Medicina, tal como as restantes profissões, é um serviço à Vida, é mister na sociedade hodierna. E há médicos assim, justiça seja feita. Mas também os há assado, e tivesse sido outra rapariga, provavelmente teria saído das urgências aviada de pílulas e preservativos, coisa que me custa a crer que cumpra o objectivo da Medicina..
Ou seja, há os de Hipócrates e os hipócritas, e desses não deve rezar a História.
(Fonte: blogue ‘Senza’ de João Silveira em 2012 AQUI)
1 comentário:
Muito bem escrita esta carta! Fica difícil postar mais alguma coisa, mas vou tentar contribuir com algo mais objetivo e fundamental, talvez, que seria um alerta para todos os pais: que a educação começa em casa, e continua pra vida toda, mesmo com os conhecimentos técnico-científicos que nossos filhos possam "aprender" com a "educação" curricular.
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