Sede da ONU em Genebra |
O relatório que a ONU publicou esta quarta-feira, em que critica a actuação da Santa Sé na forma como lidou com a crise dos abusos sexuais praticados por membros da Igreja, é ideológico e não corresponde à realidade.
Quem o diz é o especialista em direito canónico, padre José Patrício, que realça que o relatório não menciona sequer os dados fornecidos pela Santa Sé no passado mês de Janeiro: “No passado dia 16 de Janeiro, o Monsenhor Silvano Tomasi, representante da Santa Sé na ONU, teve uma intervenção junto desta comissão em que forneceu um conjunto de informações, dos quais o relatório não faz sequer menção, o que é estranho. Parece que o relatório estava feito antes de ser ouvida a Santa Sé em relação a um tema tão importante como este.”
“Pelas notícias dá-se a entender que a Santa Sé é a única organização que não tem uma legislação adequada à protecção das crianças, mas pelo contrário, a Santa Sé é das instituições que mais se tem esforçado para que isso aconteça e este relatório não corresponde à verdade dos factos.”
“Tem de ficar claro, e para a Igreja isto é claríssimo, que um só abuso sexual de menor por parte de um clérigo ou membro da igreja é algo que não devia acontecer nunca”, salienta o sacerdote da diocese de Lamego. “A Igreja, neste domínio, está a fazer todos os esforços do ponto de vista jurídico, pastoral, de cuidados a ter, para evitar que ocorram abusos cometidos por membros da Igreja. Esse esforço, não conheço nenhum estado nem nenhuma organização que em tão poucos anos tenha promulgado tanta legislação e tenha percorrido um caminho tão longo, em tão pouco tempo, para a protecção das crianças.”
O gabinete de imprensa da Santa Sé já criticou o facto de este relatório procurar interferir nos ensinamentos da Igreja sobre questões como o aborto, a homossexualidade e a contracepção.
Para o padre José Patrício isto são provas de que existe uma tensão ideológica entre a ONU e a Igreja, mas que é importante a Santa Sé continuar presente naquela instituição. “Há de facto uma visão ideológica muito diferente entre a Igreja e este relatório das Nações Unidas e essa ideologia é um confronto do qual a Igreja não se pode dispensar. É preciso estar lá, debater as nossas ideias e continuar a explicar a posição da Santa Sé, mesmo que não sejamos ouvidos, que não concordem connosco, e mesmo que nos venham dizer que temos de mudar coisas que à partida sabemos que não vamos mudar, porque são coisas que não depende de nós, dependem daquilo que Jesus nos deixou.”
A Santa Sé, que tem estatuto de observador na ONU, foi dos primeiros estados a ratificar a convenção para a protecção dos direitos das crianças, ao abrigo da qual foi criada esta comissão.
Mas logo na altura Roma deixou claro que não poria em causa os seus ensinamentos: “Quando a Santa Sé, em 1990, ratifica a convenção, que dá origem a esta comissão, deixou muito claro que, e passo a citar: ‘Ao aceder a esta convenção deseja renovar a sua expressão de uma constante preocupação pelo bem-estar das crianças e das suas famílias. Mas considerando a sua singular natureza e a sua posição, ao comprometer-se com esta convenção, não prescinde de qualquer modo da sua missão específica na qual a sua dimensão religiosa e moral têm um aspecto primordial’”, recorda o especialista em direito canónico, padre José Patrício.
Filipe d'Avillez in RR AQUI
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