Nos dias passados,
meditando uma vez mais sobre as homilias do nosso Padre – recomendo que volteis
uma e outra vez a meditar esses textos, que enriquecerão a vossa vida interior
– detive-me numas palavras que exprimem com muita clareza o porquê do
nascimento de Jesus. Nosso Senhor veio trazer a paz, a boa nova, a vida a
todos os homens. Não só aos ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só
à gente simples, a todos. Aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de
um mesmo Pai, Deus [14].
Sentirmo-nos irmãos dos outros e agir como tal é dom divino. A fraternidade
está enraizada na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade
genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e
extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cfr. Mt 6,
25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de
fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se o mais
admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo
os seres humanos à solidariedade e à partilha ativa.
Sobretudo a fraternidade humana, prossegue o Papa, foi regenerada em
e por Jesus Cristo, com a Sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar»
definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não
são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para a
redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cfr. Fl 2, 8),
constitui-nos, pela Sua ressurreição, como humanidade nova, em plena
comunhão com a vontade de Deus, com o Seu projeto, que inclui a realização plena
da vocação à fraternidade [15].
Por ser um dom de Deus, a promoção da fraternidade traz consigo também uma
tarefa que o Senhor confia a cada um e da qual não nos podemos alhear. Com um
saudável realismo, que nada tem a ver com uma atitude pessimista, o nosso
Fundador escrevia que a vida não é um romance cor-de-rosa. A fraternidade
cristã não é algo que vem do Céu de uma vez por todas, mas é uma realidade para
ser construída todos os dias. E constrói-se numa vida que conserva toda a sua
dureza, com confrontos de interesse, com tensões e lutas, com o contacto diário
com pessoas que nos parecem insignificantes, e com visões curtas da nossa parte
[16].
[14]. S. Josemaria, Cristo que passa, n. 106.
[15]. Papa Francisco, Mensagem para o Dia mundial da paz de 2014, 8-XII-2013,
n. 3.
[16]. S. Josemaria, As riquezas da fé, publicado originalmente em “Los
domingos de ABC”, 2-XI-1969. Tradução portuguesa publicada em “S. Josemaria”
boletim informativo n. 8 (março de 2013)
(D.
Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de janeiro de 2014)
© Prælatura
Sanctæ Crucis et Operis Dei
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