Imagem não corresponde ao grafitto visto pelo autor do texto |
Margherita Guarducci foi a arqueóloga que, no século XX, descobriu a sepultura do primeiro Papa, na necrópole vaticana, sobre a qual foi construída a basílica de S. Pedro. Graças a um graffito, em grego, foi possível detectar o lugar onde o corpo de Simão, filho de João, depois de crucificado, foi depositado.
Os graffiti são uma detestável praga urbana. Não apenas por serem um atentado ao património e ao bem comum, mas também porque são quase sempre de muito mau gosto, sobretudo quando são de teor reivindicativo ou ofensivo. Em geral, são palavras sujas que mancham a paisagem citadina e envenenam, com a sua agressividade, as relações sociais. Mas também há, graças a Deus, excepções à regra.
Foi em Roma, onde estive em peregrinação no fim-de-semana passado, que fui surpreendido por um graffito muito especial. Ao verificar aquela espúria inscrição e antes de a ler, a minha reacção foi de desagrado e de irritação, por um acto que supus de vandalismo, tanto mais inoportuno quanto maculava um muro recém-caiado. Mas, ao ler aquele graffito – «principessa, ti amo!» – apercebi-me de que aquela expressão não ofendia a casta pureza da superfície em que fora escrita, antes elevara-a à sublime condição de um acto de amor.
Ubi Petrus, ibi Ecclesia, ibi Deus: onde está Pedro, aí está a Igreja, aí está Deus que, como ensina S. João, é amor. Por isso Roma é a cidade eterna, porque eterno é o amor. As pedras milenares da urbe que tem, como seu bispo, o sucessor de Pedro, são um chamamento para que todos os cristãos, como pedras vivas do templo do Senhor, sejam para o mundo graffiti de Deus, expressões genuínas da certeza do amor divino. Porque, para Ele, todas as criaturas são princesas infinitamente amadas.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in 'i' online
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