Chegou com ar cansado e sorridente. Encostou-se à parede que divide o sector da classe turística do Airbus A330 e, com toda a simplicidade, ficou ali, serenamente, a olhar para nós.
Meia hora antes, os 75 jornalistas – mais mortos que vivos por causa das reportagens desta intensa semana, com horários alucinantes, desde as 5h00 até à meia-noite – só pensavam em conquistar o melhor lugar para jantar e dormir no avião. Eis senão quando vem o Padre Lombardi, director da Sala de Imprensa da Santa Sé, meio divertido e inseguro explicar-nos que, "muito provavelmente", o Papa vinha passar um tempo connosco e responder a perguntas.
Como vai ser? Quando? Quem pode perguntar? Os esclarecimentos esbarraram com a incapacidade de Lombardi responder, pois desde que Francisco é Papa, os seus colaboradores pouco ou nada conseguem controlar.
Lombardi saiu e instaurou-se a confusão: na impossibilidade objectiva de fazermos 70 perguntas ao Papa, os vários países organizaram-se: três brasileiros, dois espanhóis, três americanos, dois franceses. Jogou a meu favor o facto de ser a única portuguesa a bordo e estar sentada na primeira fila. Nem queria acreditar! Já no voo de Roma para o Rio de Janeiro, Francisco tinha conversado sem pressas com cada um de nós e agora, ali estava ele, outra vez, com o seu terno sorriso, disponível, só para nós.
O mais surpreendente foi não haver limites. Francisco ficou ali de pé, à nossa frente (e nós sentados, para todos poderem ver) e começou a responder às mais variadas perguntas. Sempre atento a quem perguntava e de palavra pronta, respondendo a tudo o que lhe quisemos perguntar – desde as coisas mais incómodas e difíceis até às privadas como, por exemplo, o que é que leva dentro da sua mala preta quando viaja.
Nunca, por um instante, Francisco mostrou enfado ou irritação. Por isso, as perguntas continuaram durante uma hora e 20 minutos. Quem acabou por ceder "de overdose papal" fomos nós, os vaticanistas que terminaram esta inédita conferência de imprensa com uma enorme salva de palmas.
Claro que a maioria não dormiu de noite, com tanto material para despachar. E passadas 12 horas de voo, com todos meio "zombies" e felizes com tanta fartura, eis que, depois do pequeno-almoço a bordo, surge Francisco a passear pelas coxias para desentorpecer as pernas, como qualquer normal passageiro.
"Então, dormiram alguma coisa?", perguntou sorridente.
"Santo Padre, passámos a noite a trabalhar por sua causa", disse-lhe um vaticanista italiano.
Ao que Francisco, com uma gargalhada, retorquiu: "Vocês puseram-se a jeito".
(Fonte: site da RR online http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=116375)
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