Durante as conversações com Roma tornaram-se evidentes várias divisões no seio da SSPX, pelo que se temia que o capítulo geral fosse tumultuoso ou mesmo que o superior-geral, o bispo Bernard Fellay, fosse destituído por ter-se aproximado de Roma.
Contudo, os trabalhos parecem ter sido tranquilos e o próprio Fellay deu uma entrevista ao site da SSPX onde afirmou que teve a oportunidade de pôr os responsáveis da sociedade a par de tudo o que se passou com Roma e que o ambiente foi extremamente positivo e fraternal.
No último encontro de Fellay com representantes da Congregação para a Doutrina da Fé, em Junho, esperava-se já a assinatura de um acordo, mas surgiram obstáculos que o impediram. Agora, diz Fellay, a SSPX vai comunicar à Santa Sé a sua posição, mas o bispo realça que não existe qualquer vontade de criar uma estrutura paralela à Igreja Católica.
“Temos de evitar tudo o que possa pôr em risco a fé, sem tentarmos substituir a Igreja Católica, Apostólica e Romana. Longe de nós a ideia de criar uma Igreja paralela, de exercer um magistério paralelo”, afirmou Fellay.
Mas o superior insiste que a submissão à autoridade de Roma só acontecerá se puder ser salvaguardada a identidade própria da SSPX.
A SSPX foi formada pelo Arcebispo Marcel Lefébvre, um clérigo francês que se opôs às reformas do Concílio Vaticano II. Em 1988 Lefébvre ordenou quatro bispos, em desobediência a João Paulo II, pelo que foi excomungado, juntamente com os bispos ordenados.
Em 2009 o Papa levantou as excomunhões aos quatro bispos (Lefébvre já tinha morrido), para facilitar as conversações. Sabe-se que Roma ofereceu à SSPX uma prelatura pessoal, à semelhança daquela que existe para o Opus Dei, que permitirá aos tradicionalistas agir com autonomia, mas em comunhão com a Igreja.
Criticas a prefeito da CDF
Bernard Fellay deixou ainda algumas críticas severas ao novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), o bispo Gerhard Müller, com quem a SSPX tem tido uma relação difícil: “Não é segredo nenhum que o anterior bispo de Ratisbona, onde se encontra o nosso seminário de Zaitkofen, não gosta de nós. Depois do acto corajoso de Bento XVI em nosso favor em 2009 [levantamento das excomunhões que pendiam sobre os quatro bispos da SSPX], ele recusou-se a colaborar e tratou-nos como leprosos”.
Mas o superior-geral vai mais longe e questiona também algumas posições doutrinais de Müller, nomeadamente sobre a virgindade de Nossa Senhora e sobre a transubstanciação, dizendo que são “no mínimo questionáveis. Não há dúvida de que há uns anos esses textos teriam sido objecto de intervenção” por parte da mesma congregação que o alemão agora chefia.
Enquanto prefeito da CDF, o arcebispo Müller é o responsável máximo pelas negociações com a SSPX, mas Bento XVI nomeou recentemente o arcebispo Di Noia para vice-presidente da Ecclesia Dei, um organismo dependente da CDF, que trata mais directamente do assunto e deverá ser Di Noia a gerir as futuras conversações com Fellay.
Filipe d’Avillez
Rádio Renascença online
Vídeos 'ROME REPORTS' em espanhol e inglês relativos a este mesmo tema
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