Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 9 de junho de 2013

Como uma lâmpada

Já tinha descido a noite a 3 de Junho de 1963, há meio século, quando o Papa João faleceu, concluindo em público uma agonia que reunia há três dias debaixo da sua janela uma multidão crescente. A praça de São Pedro estava imbuída de escuridão e num silêncio quase irreal muitíssimas pessoas, fiéis ao lado de não-crentes, tinham seguido comovidos a missa daquela segunda-feira de Pentecostes celebrada no adro pelo cardeal vigário de Roma. Falecia assim, diante do mundo, um homem do qual tinha sido imediatamente evidente e transparente a bondade.

Foi precisamente no final da celebração que a janela do Pontífice se iluminou, para indicar o fim terreno de um homem que tinha sabido comover muitíssimos corações. Como tinha acontecido só alguns meses antes, numa noite suave de Outono, quando até a lua se tinha mostrado sobre a praça. E quem a notou foi precisamente João XXIII da sua janela quando com breves e inesquecíveis palavras - o "discurso da lua", precisamente - saudou os romanos que festejavam a inauguração do concílio, a 11 de Outubro de 1962, pedindo que levassem a carícia do Papa às crianças e a quem tinha ficado em casa.

Terminava deste modo a vida de Angelo Giuseppe Roncalli, na paz de uma morte pública que pela sua ressonância universal não tinha precedentes na história da Igreja de Roma e chamava a atenção para o fim cristão no contexto das famílias, sobretudo patriarcais como aquela na qual o Papa cresceu, morte outrora não rara nem surpreendente. E terminava um pontificado não longo mas decisivo, que tinha iniciado com a eleição em conclave, a 28 de Outubro de 1958, do cardeal patriarca de Veneza com setenta e sete anos.

De origem camponesa, Roncalli completou em Roma uma formação espiritual e cultural sólida que teria regido toda a sua vida. Sacerdote e diplomata hábil e sábio, já com setenta e um anos foi nomeado por Pio XII patriarca de Veneza e criado cardeal no seu segundo e último consistório, identificado quase imediatamente em fontes diplomáticas da época (em meados dos anos cinquenta) como um possível candidato "de transição" para uma sucessão papal que, em finais do longo e importante reino de Pio XII, não parecia anunciar-se fácil.

E foi deveras transição. Sobretudo pela intuição surpreendente e necessária - inspiração certamente providencial numa óptica de fé - do concílio, já nas primeiras semanas do pontificado cujo anúncio rebentou como uma bomba a 25 de Janeiro de 1959. Aconteceu assim o Vaticano II, para retomar a expressão evangélica (João 1, 6) usada no título de um filme de Ermano Olmi para o Pontífice que o tinha convocado e iniciado. E veio um homem, baseado também no extraordinário Giornale dell'anima do Papa publicado em 1964 pelo seu secretário Loris Capovilla. Mas outra expressão do evangelho joanino (5, 35), que descreve a primeira testemunha de Cristo como "uma lâmpada que arde e resplandece", sintetiza de igual modo muito bem a parábola humana e cristã do Papa que precisamente dos dois Joões quis assumir o nome.

GIOVANNI MARIA VIAN - Diretor

(© L'Osservatore Romano - 9 de Junho de 2013)

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