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segunda-feira, 9 de abril de 2012
No sulco do concílio Vaticano II (Editorial)
Na homilia proferida durante a missa crismal, que inaugura o Tríduo sagrado no coração do ano litúrgico cristão, Bento XVI interrogou-se - falando do sacerdócio e referindo-se explicitamente a um apelo à desobediência, publicado por um grupo de sacerdotes a propósito de "decisões definitivas do Magistério" - se a desobediência é o caminho para renovar a Igreja. E pondo-se depois, como costuma fazer, da parte de quem interroga, perguntou se ao contrário a obediência não defende o imobilismo e não petrifica a tradição.
A resposta do Papa, como sempre, não foi evasiva nem genérica: "Não. Quem olha para a história da época pós-conciliar, pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação". Renovação que ele descreveu subdividida em quatro aspectos, ou seja, "o estar cheio da alegria da fé, a radicalidade da obediência, a dinâmica da esperança e a força do amor". Portanto, o caminho não é a desobediência, mas nem sequer a petrificação. Bento XVI interpretou a sua resposta à luz da história, aludindo ao meio século transcorrido desde a abertura do concílio Vaticano II e evocando implicitamente a lógica da reforma, oposta à da ruptura que ele tinha recordado diante da Cúria romana no discurso fundamental de 22 de Dezembro de 2005: "À hermenêutica da descontinuidade opõe-se a hermenêutica da reforma, como antes a apresentaram o Papa João XXIII no seu discurso de abertura do Concílio em 11 de Outubro de 1962 e, posteriormente, o Papa Paulo VI no discurso de encerramento a 7 de Dezembro de 1965".
Portanto, é à herança do Vaticano II - novissimus, ou seja, último na série dos concílios e coerente com todos, segundo a tradição viva da Igreja, aberta ao futuro à espera da vinda do Senhor - que o Pontífice exorta toda a comunidade dos fiéis. Num momento que Bento XVI, citando a análise recente de vários cardeais, descreve sem meios-termos marcado por "um analfabetismo religioso que se difunde no meio da nossa sociedade tão inteligente". Eis por conseguinte, a cinquenta anos da abertura do acontecimento religioso mais importante do século XX, o Ano da fé, ocasião para que ela seja anunciada com zelo e alegria. Sem medo de usar termos fora de moda, como precisamente "zelo" ou "alma", combinados na expressão animarum zelus, que quase caiu em desuso e que ao contrário o Papa propõe aos sacerdotes para que estejam verdadeiramente próximos de cada pessoa e lhes mostrem o rosto de Cristo.
Uma reflexão lúcida e suave, que mais uma vez anula o estereótipo de um Papa frágil, que não governaria a Igreja. Precisamente no dia em que, é divulgado na Itália pela revista dos jesuítas "La Civiltà Cattolica" o longo documento da Comissão teológica internacional sobre a teologia hoje, já acessível em inglês no site do Vaticano. Elaborado pelo organismo instituído em 1969 por Paulo VI, que imediatamente quis incluir nele Joseph Ratzinger, com quarenta e dois anos, então docente na universidade de Regensburg o texto começa, também ele, com uma avaliação amplamente positiva da renovação impressa à teologia pelo Vaticano II, insistindo ao mesmo tempo sobre a necessidade de um "discurso comum". Em comunhão com a Igreja, para oferecer a verdade de Cristo às mulheres e aos homens de hoje.
GIOVANNI MARIA VIAN - Diretor
(© L'Osservatore Romano - 7 de Abril de 2012)
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