Balduíno de Ford (?-c. 1190), abade cisterciense
O Sacramento do altar, II,1
Jesus partiu o pão. Se Ele não tivesse partido o pão, como é que as migalhas teriam chegado até nós? Mas partiu-o e distribuiu-o; «reparte do que é seu com os pobres» [Sl 112 (111), 9]. Pela Sua graça partiu-o para destruir a cólera do Pai e a Sua. Deus tinha-Lhe dito que nos teria destruído, não tivesse o Seu Filho único, o Seu escolhido, intercedido junto d'Ele «para acalmar a Sua ira» [Sl 106 (105), 23]. Pôs-Se diante de Deus e apaziguou-O; pela Sua força indefectível, manteve-Se de pé, sem ser destruído.
Mas Ele próprio, voluntariamente, destruiu, ofereceu a Sua carne esmagada pelo sofrimento. Foi então que «quebrou as flechas do arco» [Sl 76 (75), 4], «as cabeças do Leviatan» [Sl 74 (73), 14], todos nossos inimigos, na Sua cólera. Assim, de certa forma, quebrou as tábuas da primeira aliança, para que nós deixássemos de estar submetidos à Lei. Então, destruiu o jugo do nosso cativeiro. Destruiu tudo o que nos oprimia, para restaurar em nós tudo o que estava esmagado e para «pôr em liberdade os oprimidos» (Is 58, 6). Com efeito, nós estávamos «prisioneiros da tristeza e de cadeias» [Sl 107 (106), 10].
Bom Jesus, ainda hoje, apesar de teres destruído a cólera, partido o pão para nós, nós, pobres mendigos, continuamos a ter fome. [...] Parte, então, todos os dias esse pão para aqueles que têm fome. Porque, hoje e todos os dias, recolhemos algumas migalhas, e cada dia temos de novo necessidade do nosso pão quotidiano: «dá-nos o nosso pão de cada dia» (Lc 11, 3). Se Tu não no-lo deres, quem no-lo dará? Na nossa nudez e na nossa necessidade, não temos ninguém que nos parta o pão, ninguém que nos alimente, ninguém que nos refaça, ninguém senão Tu, o nosso Deus. Em todas as consolações que nos envias recolhemos as migalhas desse pão que Tu partes e que nós degustamos docemente «pela Tua bondade e misericórdia!» [Sl 109 (108), 21].
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