Há momentos na história do mundo que vale a pena viver. Na história da Igreja estaremos certamente a viver um desses momentos. Perante a perplexidade gerada pelo anúncio da resignação de um Papa como Bento XVI, é para os cristãos reconfortante pensar que, apesar das múltiplas crises que se abateram sobre a Igreja, a condução do seu destino tem estado há mais de meio século entregue a homens tão diferentes quanto verdadeiramente excepcionais.
Perante o exemplo de vida e coragem destes homens, faz redobrado sentido o título que tradicionalmente os católicos atribuem aos sucessores de Pedro: Santidade. Com a partida voluntária de Bento XVI é hora de desfraldar o cartaz que hoje mesmo alguns fiéis ostentavam na sua última audiência de quarta-feira: Obrigado, santidade!
Obrigada, pelo vigor do seu pensamento de intelectual em diálogo permanente com o mundo moderno, sensível à multiplicidade dos seus sinais, e pelo seu pontificado único e tantas vezes inesperado. Por essa imagem inesquecível de recolhimento e oração, no mais profundo silêncio, no aeródromo de Quatro Ventos (nas jornadas de Madrid) rodeado de milhares e milhares de jovens dispostos a enfrentar, na segura companhia de Pedro, todos os vendavais.
Mas obrigada também por este último e precioso exemplo de humildade, liberdade, lucidez e coragem. Tão desafiante quanto diferente da permanência de João Paulo II até ao minuto final, fazendo da sua própria vida, e experiência de sofrimento, um elemento essencial de catequese.
Da herança do actual Papa faz parte a capacidade de sarar as feridas de uma Igreja a braços com a vergonha do escândalo da pedofilia e das infidelidades no seio da própria Cúria, combatendo o silenciamento e o pecado de forma intransigente. Como farão também os frutos do seu diligente arrumar da casa, traduzido numa notável renovação do episcopado mundial, promovida na convicção de que o vigor das comunidades depende muito da fé e da acção dos respectivos pastores.
Fica ainda o desafio lançado à coerência dos crentes, chamados a testemunhar, nas respectivas vidas, as razões da sua alegria e esperança na defesa da Verdade num mundo cada vez mais relativista. Sem esquecer a notável renovação e impulso dado aos ensinamentos da doutrina social da Igreja, de que a encíclica Caridade na Verdade e a última Mensagem de Ano Novo de Bento XVI são exemplos inestimáveis.
Em 2010, ao jornalista alemão Peter Seewald , Bento XVI disse com clareza “se o Papa chegar a reconhecer com clareza que, física, psíquica e mentalmente, já não pode suportar a carga do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever, de renunciar”. Mas acrescentava, falando das dificuldades que a Igreja já então enfrentava: “Se o perigo é grande, não se deve fugir dele. (…) Pode-se renunciar num momento sereno ou quando a pessoa já não pode mais. Mas não se deve fugir no perigo e dizer: que outro faça isto”.
Este não é certamente um momento sereno, mas nem por isso Bento XVI fugirá. Antes preparou e aplainou o terreno ao sucessor. A este caberá, agora mais do que nunca, fazer acontecer e continuar a impor a renovação na Igreja, sem deixar de combater com vigor físico e espiritual o mesmo inimigo: o pecado interno.
O nosso pecado, que tantas vezes mancha e faz contra-testemunho da nossa própria fé. De Roma chegam-nos exemplos inspiradores de incansável luta pela verdadeira Santidade.
Obrigada, pelo vigor do seu pensamento de intelectual em diálogo permanente com o mundo moderno, sensível à multiplicidade dos seus sinais, e pelo seu pontificado único e tantas vezes inesperado. Por essa imagem inesquecível de recolhimento e oração, no mais profundo silêncio, no aeródromo de Quatro Ventos (nas jornadas de Madrid) rodeado de milhares e milhares de jovens dispostos a enfrentar, na segura companhia de Pedro, todos os vendavais.
Mas obrigada também por este último e precioso exemplo de humildade, liberdade, lucidez e coragem. Tão desafiante quanto diferente da permanência de João Paulo II até ao minuto final, fazendo da sua própria vida, e experiência de sofrimento, um elemento essencial de catequese.
Da herança do actual Papa faz parte a capacidade de sarar as feridas de uma Igreja a braços com a vergonha do escândalo da pedofilia e das infidelidades no seio da própria Cúria, combatendo o silenciamento e o pecado de forma intransigente. Como farão também os frutos do seu diligente arrumar da casa, traduzido numa notável renovação do episcopado mundial, promovida na convicção de que o vigor das comunidades depende muito da fé e da acção dos respectivos pastores.
Fica ainda o desafio lançado à coerência dos crentes, chamados a testemunhar, nas respectivas vidas, as razões da sua alegria e esperança na defesa da Verdade num mundo cada vez mais relativista. Sem esquecer a notável renovação e impulso dado aos ensinamentos da doutrina social da Igreja, de que a encíclica Caridade na Verdade e a última Mensagem de Ano Novo de Bento XVI são exemplos inestimáveis.
Em 2010, ao jornalista alemão Peter Seewald , Bento XVI disse com clareza “se o Papa chegar a reconhecer com clareza que, física, psíquica e mentalmente, já não pode suportar a carga do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever, de renunciar”. Mas acrescentava, falando das dificuldades que a Igreja já então enfrentava: “Se o perigo é grande, não se deve fugir dele. (…) Pode-se renunciar num momento sereno ou quando a pessoa já não pode mais. Mas não se deve fugir no perigo e dizer: que outro faça isto”.
Este não é certamente um momento sereno, mas nem por isso Bento XVI fugirá. Antes preparou e aplainou o terreno ao sucessor. A este caberá, agora mais do que nunca, fazer acontecer e continuar a impor a renovação na Igreja, sem deixar de combater com vigor físico e espiritual o mesmo inimigo: o pecado interno.
O nosso pecado, que tantas vezes mancha e faz contra-testemunho da nossa própria fé. De Roma chegam-nos exemplos inspiradores de incansável luta pela verdadeira Santidade.
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