O tema é óbvio - a Igreja que invade os espaços públicos de liberdade - e óbvio é também o ponto de vista do panfleto de Sérgio Romano e Beda Romano La Chiesa contro. Portanto, teria sido mais correcto intitulá-lo Contro la Chiesa. Sendo um panfleto, o livro apresenta as características do género: superficialidade das fontes (tanto históricas como bioéticas) e inexactidão das notícias, como no caso daquelas relativas à Comissão nacional de bioética italiana, para as quais um simples controlo teria evitado muitas inexactidões.
O volume revela imediatamente uma xenofilia consolidada: assim Beda Romano enfrentou horas de diálogo com a secretaria da Comissão bioética francesa, que é uma fonte muito partidária - talvez entrevistar o cientista que o presidiu durante anos, Didier Sicard, o ajudasse a fazer um discurso mais crítico - mas nunca se encontrou com um membro do respectivo organismo italiano. Por sua vez, Sérgio Romano escreve que a separação entre Estado e Igreja obteve bom êxito em todos os países europeus, mas não na Itália, baseando-se numa interpretação muito parcial, tanto do Ressurgimento como da Concordata.
Mas o livro apresenta também aspectos novos: a comparação histórica das relações entre Estado e Igreja nos vários países europeus, e sobretudo na segunda parte - mais nova e interessante - a abordagem das questões bioéticas, sem examinar os problemas morais e filosóficos subjacentes, mas analisando a realidade dos comportamentos diante das questões técnico-científicas em debate. Para cada país, Beda Romano escolhe aprofundar o tema no qual, na sua opinião, este se demonstrou mais evoluído: os transplantes de órgãos na Espanha, os Pacs para as convivências entre pessoas homossexuais na França, a inseminação artificial na Dinamarca, a clonagem no Reino Unido e a eutanásia na Suíça. Na opinião dos autores, talvez o país ideal seja aquele onde todos estes "vértices de progressismo" estejam reunidos. Mas a Itália é o contrário, porque não encontra lugar em qualquer classificação de "bons", de "modernos" e de "científicos".
Naturalmente, a culpa - com escassa originalidade - é atribuída à Igreja, conhecida por obscurantismo desde os tempos de Galileu na sua realidade institucional e nos efeitos maléficos sobre a burguesia italiana. Com uma referência ao discurso sobre a falta de modernização italiana, por causa da Contra-reforma: outro lugar-comum que, nas últimas décadas, a investigação histórica rejeitou amplamente.
É realmente tão difícil pensar que as aplicações das tecnociências ou a aceitação jurídica das uniões homossexuais não constituem um teste de modernidade, mas levantam problemas antropológicos porque transformam a nossa cultura, e portanto é bom que sejam objecto de reflexão e debate, e talvez de uma suspensão prudente de juízo? Assim pensam muitos filósofos leigos e cientistas, católicos e não católicos. Não pensam assim, ao contrário, as indústrias farmacêuticas, os pesquisadores que querem uma celebridade rápida e fundos para as suas actividades.
Sem dúvida, a Igreja católica é a única instituição mundial que ousa expressar um juízo crítico sobre uma tendência "progressista" intencionalmente superficial, a única que ousa denunciar as possíveis consequências negativas destas inovações. Que ousa, em síntese, estimular um debate, fazer meditar e exigir respostas autênticas. E é curioso que precisamente devido a este seu ser livre e pensante - sobre alguns temas, a única voz crítica que pode fazer-se ouvir no mundo inteiro - é acusada de obscurantismo e de incapacidade de enfrentar a modernidade.
Com efeito, todos os intelectuais que abordam tais questões com olhar crítico - por exemplo, além de Jonas e Habermas, Testart e Agacinsky - permanecem fatalmente limitados num âmbito restrito de interlocutores, muitas vezes só intelectuais que falam a sua língua. A Igreja, ao contrário, fala de modo mais fácil e faz-se ouvir em toda a parte. Perturbando, e não pouco, o retrato de uma modernidade feliz que progride sem mancha, tão amado por muitos.
LUCETTA SCARAFFIA
(© L'Osservatore Romano - 28 de Janeiro de 2012)
O volume revela imediatamente uma xenofilia consolidada: assim Beda Romano enfrentou horas de diálogo com a secretaria da Comissão bioética francesa, que é uma fonte muito partidária - talvez entrevistar o cientista que o presidiu durante anos, Didier Sicard, o ajudasse a fazer um discurso mais crítico - mas nunca se encontrou com um membro do respectivo organismo italiano. Por sua vez, Sérgio Romano escreve que a separação entre Estado e Igreja obteve bom êxito em todos os países europeus, mas não na Itália, baseando-se numa interpretação muito parcial, tanto do Ressurgimento como da Concordata.
Mas o livro apresenta também aspectos novos: a comparação histórica das relações entre Estado e Igreja nos vários países europeus, e sobretudo na segunda parte - mais nova e interessante - a abordagem das questões bioéticas, sem examinar os problemas morais e filosóficos subjacentes, mas analisando a realidade dos comportamentos diante das questões técnico-científicas em debate. Para cada país, Beda Romano escolhe aprofundar o tema no qual, na sua opinião, este se demonstrou mais evoluído: os transplantes de órgãos na Espanha, os Pacs para as convivências entre pessoas homossexuais na França, a inseminação artificial na Dinamarca, a clonagem no Reino Unido e a eutanásia na Suíça. Na opinião dos autores, talvez o país ideal seja aquele onde todos estes "vértices de progressismo" estejam reunidos. Mas a Itália é o contrário, porque não encontra lugar em qualquer classificação de "bons", de "modernos" e de "científicos".
Naturalmente, a culpa - com escassa originalidade - é atribuída à Igreja, conhecida por obscurantismo desde os tempos de Galileu na sua realidade institucional e nos efeitos maléficos sobre a burguesia italiana. Com uma referência ao discurso sobre a falta de modernização italiana, por causa da Contra-reforma: outro lugar-comum que, nas últimas décadas, a investigação histórica rejeitou amplamente.
É realmente tão difícil pensar que as aplicações das tecnociências ou a aceitação jurídica das uniões homossexuais não constituem um teste de modernidade, mas levantam problemas antropológicos porque transformam a nossa cultura, e portanto é bom que sejam objecto de reflexão e debate, e talvez de uma suspensão prudente de juízo? Assim pensam muitos filósofos leigos e cientistas, católicos e não católicos. Não pensam assim, ao contrário, as indústrias farmacêuticas, os pesquisadores que querem uma celebridade rápida e fundos para as suas actividades.
Sem dúvida, a Igreja católica é a única instituição mundial que ousa expressar um juízo crítico sobre uma tendência "progressista" intencionalmente superficial, a única que ousa denunciar as possíveis consequências negativas destas inovações. Que ousa, em síntese, estimular um debate, fazer meditar e exigir respostas autênticas. E é curioso que precisamente devido a este seu ser livre e pensante - sobre alguns temas, a única voz crítica que pode fazer-se ouvir no mundo inteiro - é acusada de obscurantismo e de incapacidade de enfrentar a modernidade.
Com efeito, todos os intelectuais que abordam tais questões com olhar crítico - por exemplo, além de Jonas e Habermas, Testart e Agacinsky - permanecem fatalmente limitados num âmbito restrito de interlocutores, muitas vezes só intelectuais que falam a sua língua. A Igreja, ao contrário, fala de modo mais fácil e faz-se ouvir em toda a parte. Perturbando, e não pouco, o retrato de uma modernidade feliz que progride sem mancha, tão amado por muitos.
LUCETTA SCARAFFIA
(© L'Osservatore Romano - 28 de Janeiro de 2012)
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