O comentário de Furedi foi motivado pelo caso de um homem que trabalhava no departamento de ambiente de uma companhia imobiliária. Firmemente convencido de que a Terra está gravemente ameaçada pelas mudanças climáticas, tinha conflitos com os chefes, que censurava por não tomarem a sério o problema, e negou-se a fazer uma viagem de avião, que considerava supérflua, para não contribuir para o respectivo consumo de combustível. Por estes motivos, há um ano e meio foi despedido pela empresa. Recorreu aos tribunais, e finalmente um juiz declarou que o despedimento era contrário à lei da igualdade laboral, que proíbe discriminar os empregados pela sua religião ou crenças filosóficas. Segundo a sentença, a opinião do despedido sobre a mudança climática é uma crença filosófica que merece a protecção legal.
Furedi começa por fazer afirmações duvidosas comparando a fé com a ciência. No final do seu longo artigo refere-se às teses implícitas no veredicto do juiz como sintoma de uma tendência mais generalizada a "sacralizar os estilos de vida". O empregado despedido está firmemente convencido de que a mudança climática põe em perigo a humanidade e todo o planeta, tornando-se absolutamente necessário e urgente reduzir drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa, mudando radicalmente a economia e convencendo toda a gente a adoptar um regime de vida de baixo consumo energético. Segundo Furedi, esta posição, a que a sentença concede a mesma protecção que à fé religiosa, não é em si uma filosofia, mas o que se chama um estilo de vida: ideias e práticas de motivação moral sobre o modo como se deve viver.
"Tomamos muito a sério o nosso estilo de vida: o que comemos, o nosso aspecto, como viajamos ou com quem compartilhamos a cama define a identidade de muitos. Mas num mundo em que uma enorme multiplicidade de estilos de vida cobrou importância de relevo, não é possível tratá-los como quase-religiões".
Para uma crença filosófica merecer protecção, a lei de igualdade laboral exige que seja "mantida com boa-fé", que se refira a um aspecto "relevante e substancial" da experiência humana, tenha "seriedade, coerência e importância", e seja "digna de respeito numa sociedade democrática". E, pergunta Furedi, quem decide que uma firme convicção seja digna de tal respeito? "As nossas elites jurídicas e culturais têm decerto ideias muito claras sobre as opiniões que são dignas de respeito e sobre as que não são. Assim, ficámos a saber na semana passada que, segundo uma nova proposta do governo do New Labour, os pais que se opõem a que os filhos recebam educação sexual na escola não são ‘dignos de respeito', apesar de as suas opiniões se fundamentarem em sinceras e profundas convicções; ser-lhes-á portanto negada a possibilidade de retirar os seus filhos das aulas de educação sexual.
"Há estilos de vida que são protegidos, ou pelo menos sacralizados pela lei, enquanto outros são estigmatizados. Assim, os cristãos que, de acordo com as suas crenças, recusarem celebrar casamentos homossexuais têm pouca probabilidade de obter protecção, embora a sua posição seja expressão de convicções religiosas tradicionalmente reconhecidas. Pelo contrário, aqueles a quem a consciência não permitir viajar na Ryanair gozarão desde agora de privilégios e isenções que não se concedem aos seus colegas moralmente inferiores. A sacralização de estilos de vida aprovados pelas elites cria dois pesos e duas medidas, contradizendo directamente as normas democráticas".
Um exemplo que Furedi aponta é a indulgência com que às vezes são tratados os activistas que, no decurso de actos de protesto contra actividades por eles consideradas prejudiciais para o ambiente, invadem e danificam propriedades alheias. "Hoje em dia, quem tem firmes convicções ecologistas goza inclusivamente de uma concessão semioficial para violar a lei. Os que protestam contra os alimentos transgénicos ou contra a energia nuclear são frequentemente etiquetados como jovens idealistas que actuam ‘em nome de todos'. Na realidade, como fazem parte da oligarquia política britânica, têm uma liberdade para protestar que se costuma negar ao comum dos mortais. Por isso, estes activistas que violam a lei são muitas vezes tratados com simpatia nos julgamentos e absolvidos".
Frank Furedi
(Fonte: Spiked AQUI via Aceprensa)
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