Porque terá Nosso Senhor, como primeiro sinal, transformado a água em vinho? Foi para demonstrar como Deus, que transforma a natureza do interior das garrafas, opera também a Sua transformação no seio da Virgem. De igual modo, como milagre máximo, Jesus abriu um túmulo a fim de manifestar a Sua independência em relação à ávida morte, que tudo engole.
Para autenticar e confirmar a dupla perturbação da natureza que são o Seu nascimento e a Sua ressurreição, Jesus transforma a água em vinho, sem em nada modificar as vasilhas de pedra. Eis aqui o símbolo do Seu próprio corpo, milagrosamente concebido e maravilhosamente criado numa virgem, sem intervenção de homem. [...] Contrariamente ao que é habitual, as vasilhas deram ao mundo um vinho novo, sem que nunca houvesse, posteriormente, repetição de tal maravilha. Assim também a Virgem concebeu e deu ao mundo a Emanuel (Is 7, 14), não voltando a conceber. O milagre das vasilhas de pedra é este: a pequenez torna-se grandeza, a parcimónia transmuta-se em superabundância, a água da fonte em vinho doce. [...] Em Maria, contrariamente, a grandeza e a glória da divindade mudam de aspecto, antes tomando uma aparência de fragilidade e de ignomínia.
Aquelas vasilhas serviam para os ritos de purificação dos judeus; nelas, verte nosso Senhor a Sua doutrina: manifesta que veio segundo a Lei e os profetas, mas para tudo mudar através dos Seus ensinamentos, tal como a água se transformou em vinho. [...] «É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo» (Jo 1,17). O esposo que morava em Caná convidou o Esposo que veio do céu; e o Senhor, preparado para estas núpcias, respondeu ao seu convite. Os que estavam sentados à mesa convidaram Aquele que instala os mundos em Seu Reino, e Ele enviou-lhes um presente de núpcias que os fez exultar. [...] Não tinham vinho que chegasse, mesmo do de menor qualidade; Ele deu-lhes então um pouco da Sua riqueza: em resposta ao convite, Ele convidou-os para as Suas próprias núpcias.
Santo Efraim (c. 306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja
Comentário ao Diatessaron, 5, 6ss.; SC 121
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