São João da Cruz (1542 – 1591), carmelita, Doutor da Igreja
A Chama viva do amor. Estrofe 2
Mas Tu, oh vida divina, nunca matas senão para dar vida, e nunca chagas senão para sarar! Quando castigas, tocas levemente, e isso basta para destruir o mundo; mas também quando acaricias, amoldas-Te perfeitamente e, assim, o prazer da Tua doçura é incontável. Chagaste-me para me curar, oh divina mão, e mataste em mim o que me trazia morto sem a vida de Deus que agora me vejo viver. Tudo isto fizeste com a liberalidade da Tua graça generosa que tiveste para comigo quando me tocaste com o toque «do resplendor da Tua glória e imagem fiel da Tua substância» (Heb 1, 3), que é o Teu Filho Unigénito, no qual, sendo Ele a Tua sabedoria, «tocas com vigor de uma extremidade à outra» (Sb 8, 1). Este Teu filho Unigénito, oh mão misericordiosa do Pai, é o toque delicado com que me tocaste e me chagaste na força do Teu cautério.
Oh, pois Tu, toque delicado, verbo, Filho de Deus, que, com a suavidade do Teu ser divino, penetras subtilmente na substância da minha alma e, tocando-a delicadamente, toda a absorves em Ti em modos divinos de suavidade e doçura, «das quais nunca se ouviu falar em Canaã nem foram vistas em Temã» (Br 3, 22). Oh, pois, forte e de certa maneira excessivo toque dedicado do Verbo, tanto mais delicado foste para mim quanto fendeste as montanhas e quebrastes os rochedos no monte Horeb com a sombra do Teu poder e força que ia à Tua frente, e tão doce e vivamente Te manifestastes ao profeta no sopro de uma brisa suave (1Rs 19, 11-12). Oh brisa suave, sendo tão suave e delicada, diz, Verbo, Filho de Deus, como tocas suave e delicadamente, sendo tão terrível e poderoso? [...] «Ao abrigo da Tua face, que é o Verbo, os defendes das maquinações dos homens.» (Sl 30, 21).
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