Seguindo a tradição, a meio da tarde deste dia 8, solenidade da Imaculada Conceição de Maria, com um esplêndido tempo outonal, o Santo Padre deslocou-se à Praça de Espanha, no centro de Roma, para presidir a um breve momento de oração junto da imagem de Nossa Senhora da Conceição, depondo aos seus pés uma coroa de flores, que um bombeiro colocou logo depois no braço da Virgem, na estátua colocada no alto da coluna ali existente.
Tendo deixado o Vaticano, de automóvel, às quatro menos um quarto, ao longo do trajeto Bento XVI deteve-se por uns momentos junto da igreja da Santíssima Trindade, onde foi saudado pelos representantes da associação dos Comerciantes da zona. Já na Praça de Espanha, o Santo Padre presidiu a uma breve celebração da Palavra, com a proclamação de uma passagem do Livro do Apocalipse, que evoca Maria como um sinal grandioso aparecido no céu: uma mulher vestida de sol, com a lua sob os seus pés e, na cabeça, uma coroa de doze estrelas.
Na homilia, o Papa explicou que “esta imagem representa ao mesmo tempo Nossa Senhora e a Igreja”. Antes de mais, a “mulher” do Apocalipse é a própria Maria.
“Vestida de sol” quer dizer, vestida de Deus, toda envolvida da luz de Deus, vivendo em Deus. Ela é, de facto, a cheia de graça. A lua que tem sob os seus pés (observou ainda Bento XVI), é símbolo da morte e da mortalidade. Maria está plenamente associada à vitória de Jesus Cristo, seu Filho, sobre o pecado e sobre a morte, livre de toda e qualquer sombra de morte, totalmente cumulada de vida. Finalmente, a coroa de doze estrelas, que representam as doze tribos de Israel: significa que a Virgem Maria está no centro do Povo de Deus, de toda a comunhão dos santos.
“Para além de representar Nossa Senhora, este sinal (da mulher do Apocalipse) personifica a Igreja, a comunidade cristã de todos os tempos. Ela está grávida, no sentido de que traz no seu seio Cristo, e deve-o dar à luz para o mundo: essas as dores de parto da Igreja peregrina na terra,, devendo, no meio das consolações de Deus e das perseguições do mundo, levar Jesus aos homens”.
Aludindo ainda ao outro sinal do texto do Apocalipse de São João – um “enorme dragão vermelho” que tenta, em vão, devorar “o filho, masculino, destinado a governar todas as nações”. Jesus venceu já, definitivamente os seus ataques. Só a mulher – a Igreja – continua, no deserto do mundo, a sofrer os ataques do dragão, embora sustentada sempre pela luz e pela força de Deus.
“Através de todas as provações com que se confronta no decurso dos tempos e nas diversas partes do mundo, a Igreja sofre perseguição, mas resulta vencedora. É precisamente deste modo que a Comunidade cristã é a presença, a garantia do amor de Deus contra todas as ideologias do ódio e do egoísmo.”
“A única insídia que a Igreja pode e deve recear – advertiu o Papa - é o pecado dos seus membros”. Enquanto Maria é Imaculada, livre de toda a mancha do pecado, a Igreja é santa, mas ao mesmo tempo está marcada pelos nossos pecados. Por isso é que o Povo de Deus se dirige à sua Mãe celeste , pedindo-lhe ajuda, pedindo-lhe que acompanhe o caminho da fé, para que encoraje o empenho de vida cristã, para que sustente a esperança”.
“Disso temos necessidade, sobretudo neste momento tão difícil para a Itália, para a Europa, para as várias partes do mundo. Que Maria nos ajude a ver que há uma luz para além das espessas cortinas de neblina que parecem envolver a realidade”.
Já ao meio-dia, como todos os domingos e dias santos, o Papa tinha recitado, da janela dos seus aposentos sobre a Praça de São Pedro, o Angelus, antecedido da costumada alocução, dedicada naturalmente ao mistério da conceição imaculada de Maria.
Recordando que foi Pio IX a declarar, em 1854, que por particular graça e privilégio de Deus omnipotente e em previsão dos méritos de Jesus Cristo Salvador do género humano, Maria foi imune de toda a mancha do pecado original; o Papa fez notar que esta verdade de fé está contida na saudação do arcanjo Gabriel a Maria: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor é contigo”. A expressão cheia de graça – explicou - indica a maravilhosa obra do amor de Deus, que, mediante o seu Filho incarnado, nos quis dar de novo a vida e a liberdade, perdidas com o pecado. (…) É por isso que desde o final do século II, tanto no Oriente como no Ocidente, a Igreja invoca e celebra a Virgem que, com o seu sim, aproximou o Céu da terra. Também a nós é doada a “plenitude de graça” que devemos fazer resplandecer na nossa vida, porque – como escreve São Paulo - “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo abençoou-nos com toda a bênção espiritual e escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados predestinando-nos a sermos, para Ele, filhos adotivos”.
Esta filiação, recebemo-la nós no dia do Batismo – recordou Bento XVI, citando a propósito Hildegarda de Bingen: “A Igreja é portanto a virgem mãe de todos os cristãos. Na força secreta do Espírito Santo, concebe-os e dá-os à luz, oferecendo-os a Deus, de modo que sejamos também chamados filhos de Deus”.
Nas saudações a diversos grupos de fiéis presentes hoje na Praça de São Pedro, Bento XVI reservou uma palavra especial aos membros da Ação Católica Italiana, que neste dia da Imaculada Conceição renovam a sua adesão a esta associação. “A Ação Católica é uma escola de santidade e de evangelização: os melhores votos para o seu empenho formativo e apostólico”.
Rádio Vaticano
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